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NANOMEDICINA, ESCOLHA PELO TRATAMENTO NANOTECNOLÓGICO E DIGNIDADE HUMANA: ENTRE A PERSPECTIVA DE SALVAGUARDA DA SAÚDE DO

INDIVÍDUO E A (IM)POSSÍVEL AFETAÇÃO AOS DIREITOS FUNDAMENTAIS DA PERSONALIDADE

IMPACTOS SOCIAIS E JURÍDICOS DAS NANOTECNOLOGIAS

dade subjetiva do paciente é suficiente para imprimir

o sobrelevo de juízos de prioridade dissociantes da

efetividade ou da finalidade do tratamento operado

por nanotecnologia. Sua ânsia pela melhora, ou seu

desejo de cura, podem ofuscar a capacidade de jul-

gamento sobre a propriedade do procedimento na-

notecnológico, ou da medicação nanofarmacológi-

ca, oprimindo-lhe de estabelecer um juízo adequado

sobre causa e efeito.

Tem-se, assim, uma insuficiência ética, pois o

valor que o paciente confere ao eu curado sobre o

valor da completude do fenômeno em si mesmo, ou

do risco consagrado anteriormente à alternativa na-

nomédica, é impróprio à fundamentação do valor

enquanto autonomia e liberdade, especialmente a

liberdade de escolha, e não do valor porquanto resul-

tado e eficácia.

Neste sentido, impende realçar que a sobre-

posição do interesse do paciente, pela cura, promo-

ve uma imensa ruptura no sentido literal de agir com

autonomia e liberdade de escolha, pois a ambição

curativa, se não cega o agente, desvirtua-lhe os sen-

tidos de percepção, deixando-lhe mais vulnerável, e

vulnerabilizando a própria autonomia e a liberdade.

Os desejos do «ser», ou o «ser em si mesmo»,

que se encontra em estado de submissão dos efeitos

lotéricos, ou não, de um tratamento nanomédico,

não podem constituir o fundamento de uma decisão

subjetiva supostamente autônoma, ética e livre. A

submissão emocional à expectativa de cura oprime

a ética e conspurca a autonomia, o que se justifica,

rasamente, pelo desapego do paciente à considera-

ção de outros fatores que devem ser questionados,

como as consequências físicas, psicológicas e exter-

nas do tratamento. Isto propaga uma amargura éti-

ca, notadamente perceptível quando se considera o

«eu», o próprio ser, na proporcionalidade da relação

primária dos valores daquele que eleva, ou pensa ele-

var, a autonomia, a ética e a liberdade.