Midiatização e redes digitais: os usos e as apropriações entre a dádiva e os mercados
até o último minuto, modificar o texto em qualquer parte dele.
Podíamos refazer a introdução, etc. Isso tinha um impacto ins-
tantâneo: o texto se modificava. Se nos tomarmos como o usuá-
rio, nos “interrogando”, diríamos que o texto nos pareceu como
uma escultura e nos sentimos como um escultor de textos. No
último minuto, antes de entregar o texto para uma revista, po-
díamos mudar alguma coisinha, tirar alguma coisa, polir o texto.
Observem que o uso do editor de texto, para nós, foi objeto da
transformação da prática da escrita.
Outra condição é a da mediação por uma comunidade
de prática. Uma comunidade de práticas é um conjunto de in-
divíduos que se reúnem em torno de uma mesma prática e que
trocam ideias para aprender. Há uma dimensão de aprendizado
muito importante nessa comunidade de práticas. Na internet,
existem milhares de comunidades de prática e, se alguém tem
algum problema, basta digitar algumas palavras no Google para
encontrar usuários que tenham o mesmo problema, podendo
buscar soluções junto a essa comunidade de práticas.
A última condição é a da representação política orga-
nizacional do usuário – uma representação do usuário no âmbi-
to de políticas públicas ou no âmbito da produção industrial da
inovação. Em outras palavras, o usuário deve ser representado
como usuário em instâncias políticas que pensam. Por exemplo:
o desenvolvimento dos usos na França. Muitas políticas foram
criadas para favorecer o desenvolvimento da informática, o di-
gital. O usuário deve ter porta-vozes na elaboração dessas polí-
ticas, assim como também deve ter porta-vozes no processo de
produção industrial de objetos comunicacionais.
Referimo-nos, neste momento, a dois elementos das
problemáticas que nos parece interessante aprofundar. A pri-
meira contempla a questão da invisibilidade dos dispositivos.
Estamos acostumados ao fato de ver uma oferta de dispositivos
técnicos de comunicação; há um crescimento dessa oferta em
número e variedade. Mas não percebemos que os ambientes
informacionais são paralelamente constituídos, cada vez mais,
por sensores invisíveis – comunicação máquina-máquina, RFID,
ambientes inteligentes, todas essas problemáticas. Por exem-
plo: Donald Norman, o
designer
que citamos anteriormente, es-
creveu um texto chamado
The Invisible Computer
. Há cada vez