Midiatização e redes digitais: os usos e as apropriações entre a dádiva e os mercados
mos uma problemática de conformidade com o modo de utilizar
aquilo. Poderíamos dizer que a ergonomia leva em conta esta
dimensão da utilização. Já fizemos várias apresentações para as-
sociações de ergônomos e eles nos disseram “Cuidado!!!”. Então,
queremos reduzir a questão da utilização, mas, se falamos de
um utilizador, é porque estamos atentos ao seu modo de utilizar
funcionalmente o objeto. Perguntamo-nos se ele atinge seu obje-
tivo; se usa o objeto de acordo com as instruções ou não.
Quando falamos em apropriação, não há simplesmente
o domínio técnico do objeto; há também um gesto de integração
com a vida cotidiana. Ou seja, se você apenas domina o objeto
técnico sem integrá-lo à sua vida profissional, pessoal, domés-
tica, não há, na nossa opinião, uma verdadeira apropriação. Em
última instância, esse gesto criativo do uso leva, possivelmente,
a uma reinvenção da prática. Diríamos que o consumo está liga-
do ao campo do
marketing
, dos estudos de difusão. A utilização
está mais ligada à ergonomia das interfaces, e a apropriação está
mais ligada à sociologia da apropriação.
Podemos agora destacar cinco maneiras de estudar o
uso, nos dias de hoje. A primeira delas está nas abordagens etno-
gráficas descritivas, em que fazemos descrições detalhadas dos
usos e utilizamos metodologias de múltiplas dimensões. A se-
gunda são as abordagens quantitativas da difusão dos objetos e
inovações – referimo-nos, anteriormente, ao fato de que produ-
zimos estatísticas e usos que são muito úteis para o
marketing
.
A terceira são os experimentos com protótipos, nos laboratórios
de pesquisa e desenvolvimento, onde engenheiros desenvolvem
novos objetos comunicacionais e os colocam sob a forma de pro-
tótipos nas mãos de pequenos grupos de usuários, que, por sua
vez, utilizam-nos, desenvolvem ideias. E os projetos serão, então,
eventualmente, modificados de acordo com essas percepções
dos usuários e os ideais a serem alcançados pelo protótipo. A
quarta maneira é a prospectiva: desenvolvem-se cenários de an-
tecipação dos usos, explorando os imaginários dos usuários para
vermos surgir novos objetos. Podemos refletir sobre a terceira e
a quarta maneiras, na medida em que, nas grandes operadoras
de telecomunicações, estamos assistindo atualmente a uma im-
portância atribuída ao
marketing
, em relação à importância que
até agora foi atribuída exclusivamente aos engenheiros. Ou seja,