Midiatização e redes digitais: os usos e as apropriações entre a dádiva e os mercados
utilizá-los; aos poucos, essas inovações vão se estender a grupos
maiores. A segunda grande tradição se desenvolveu em torno
do que chamamos de “modelo da tradução” ou ainda, de acordo
com outra expressão, “teoria do ator rede”. Trata-se de traba-
lhos que foram iniciados no Centro de Sociologia da Inovação
da Escola de Minas, de Paris, onde se encontravam, na época,
Bruno Latour, Michel Callon e Cécile Méadel. Estes autores se
debruçaram sobre a própria invenção da inovação e mostram
o quanto uma inovação técnica não é simplesmente um ob-
jeto técnico. Esse objeto é envolvido por um discurso social,
que promove a sua inovação. Ou seja, o engenheiro que inven-
ta um objeto é, ao mesmo tempo, um sociólogo e também um
antecipador. A terceira tradição é o que chamamos de “sociologia
francesa clássica dos usos”. Esta escola francesa se preocupa
com a significação dos usos – por que determinado uso constitui
sentido para determinado indivíduo. O sociólogo recorre, coleta
representações. Os usuários têm, então, representações do ob-
jeto técnico, e essas representações fazem parte do processo de
apropriação do objeto técnico. Por exemplo: se apresentamos a
nós mesmos um objeto técnico como sendo fácil de dominar, há
mais chances de que o dominemos. A representação faz parte
do processo. E há uma distinção entre representação e significa-
ção. Os sociólogos franceses consideram que as significações são
uma categoria do analista, em que o analista tira significações
das representações dos usuários.
Na quarta tradição, temos um conjunto de correntes
vindas da etnometodologia, que encerraria uma preocupação
com o modo como os indivíduos definem a sua situação, uma
preocupação em saber como esses indivíduos falam para des-
crever a situação. É uma abordagem muito refinada do estudo
do social. Há um certo número de correntes que foram interpo-
ladas pela etnometodologia e se desenvolveram de uma forma
autônoma. Temos, por exemplo, a análise de conversação. Existe
uma corrente que os americanos chamam de
Work Place Studies
,
que consiste em produzir descrições muito minuciosas das si-
tuações, prestando atenção na questão dos usos dos objetos téc-
nicos. O olhar é uma orientação epistemológica muito importan-