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Midiatização e redes digitais: os usos e as apropriações entre a dádiva e os mercados

no objeto técnico um apoio para termos uma visão cognitiva da

situação. Poderíamos pensar num teleguichê em uma estação de

trem: vamos a este guichê eletrônico para comprar um bilhete e

observamos que o dispositivo nos ajuda a escolher qual bilhete

queremos comprar, e é neste sentido que falamos de apoio cog-

nitivo. Há uma parte do conhecimento que está contida no objeto

que não é humano. Essa é uma referência a tradições de pesquisa

sobre o que chamamos de cognição distribuída. O conhecimento

envolvido numa tomada de decisão é um conhecimento distribuí-

do, dentro de uma rede de seres humanos e artefatos cognitivos.

A terceira definição concebe o objeto comunicacional

como um objeto simbólico, capaz de ser um revestimento psica-

nalítico e social da parte do usuário. Aqui estamos nos referindo

aos trabalhos de Sherry Turkle, que atuou durante a maior parte

de sua vida no MIT, nos Estados Unidos. Existe aí a ideia de um

objeto simbólico, que considera o objeto mais do que simples-

mente algo utilitário. Para exemplificar de forma mais fácil, um

exemplo fora do campo da comunicação, mas muito válido: o au-

tomóvel é um objeto técnico, que nos permite nos deslocar de

um lugar para o outro; mas, como se sabe, existe toda uma carga

simbólica investida nesse automóvel que escolhemos. O automó-

vel é um objeto simbólico, uma vez que nos define, que define até

mesmo um

status

na sociedade.

A quarta definição é a de um agente prescritivo de nor-

mas ligadas aos comportamentos de comunicação. Em outras pa-

lavras, o uso de um objeto comunicacional prescreve modos de

comportamento, modos de comunicar. Eu recebo, por exemplo,

um e-mail; há uma norma prescrita de que devo responder este

e-mail. Se demorar demais, ou se simplesmente não o responder,

isso vai ser interpretado pelo meu interlocutor, que vai pensar:

“Ele não está me respondendo, o que está acontecendo? Está

havendo algum incômodo, etc.?” Formulamos uma reflexão que

se insere em todos os trabalhos iniciados por Gregory Bateson

e gira em torno da ideia de uma pragmática da comunicação, ou

seja, a comunicação faz algo, faz alguma coisa para os indivíduos.

Ela intervém na situação, prescreve normas às quais devemos

responder. Exemplos de objetos comunicacionais são o

smart-

phone

, o

iPad

, a televisão, o videogame, o computador conectado

via internet.