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Midiatização e redes digitais: os usos e as apropriações entre a dádiva e os mercados

Segunda geração – abordagens etnográficas

A segunda geração de trabalhos sobre a recepção, a que

diz respeito às abordagens etnográficas, está relacionada ao fato

de que alguns pesquisadores perceberam que os trabalhos da

primeira geração tinham seus limites. Descrevi anteriormente

o modo de trabalhar de Morley, o modo como fazia com que as

pessoas assistissem a um programa. Ele convocava os grupos de

telespectadores, e o fazia na universidade no sábado de manhã.

Então, as pessoas iam à universidade no sábado de manhã para

assistir a documentos audiovisuais. Já com Katz, elas assistiam a

um videocassete; então observamos aí um lado artificial, pois é

um dispositivo afastado das condições reais da recepção. A par-

tir da constatação destes limites, os pesquisadores que inicia-

ram esta segunda geração pensaram que era preciso, ao contrá-

rio, fazer um trabalho de descrição minuciosa, etnográfica,

dos

processos reais de recepção.

Michel de Certeau foi um precursor destes estudos.

Ele se tornou, rapidamente, uma referência para os pesquisa-

dores que desenvolveram esta geração de pesquisa, em termos

de etnografia, porque se interessou pela criatividade de pessoas

comuns, reconheceu os usuários. Ele chama estes usuários de

praticantes. Como, então, os praticantes inventam, de uma manei-

ra próxima, astúcias, improvisações? E Michel de Certeau é um

imenso pensador, um historiador, psicanalista, teólogo, e se in-

teressou pela comunicação de uma forma secundária para ele,

mas para nós isso é o principal. Ele refletiu, escreveu algumas

páginas sobre a televisão, em que se pergunta o que o consu-

midor cultural fabrica com todo esse material simbólico que é

fornecido pelas mídias. Observamos que é um modo, para ele,

de evidenciar o fato de que os usuários comuns desenvolvem

uma verdadeira criatividade cultural. Ele reconhece que o usuá-

rio comum pode ser um criador cultural. Não é simplesmente o

receptáculo passivo de uma metralhadora midiática ou de um

bombardeio midiático. Ele introduz a distinção entre tática e

estratégia. Mas não é a distinção habitual encontrada nos tra-

tados militares, onde a tática é simplesmente um subconjunto