Midiatização e redes digitais: os usos e as apropriações entre a dádiva e os mercados
co no mundo das crianças. Historicamente, a criança ou a infân-
cia sempre foi descrita como tendo sido circunscrita ao espaço
doméstico. E agora, com a
internet
, que está presente dentro do
quarto das crianças, o mundo externo vai penetrar no universo
da criança. Então percebemos como se desmantela a fronteira
entre vida privada e vida pública. Nós nos vemos diante de uma
multiplicidade de fontes de telas numa confusão de gêneros
sobre o que é publicidade, o que é informação pública, o que é
comunicação, numa convergência entre o conteúdo das antigas
mídias e os novos dispositivos interativos digitais, que nos per-
mitem remixar antigas mídias com elementos de criação inova-
dora. Vemos, então, uma multiplicação das telas. A tela está cada
vez mais presente: do telefone celular ao computador. A tela da
televisão está em todas as nossas atividades diárias, agora trans-
postas nas telas diversas e, ao mesmo tempo, em interação com
o que está acontecendo. Estamos diante de uma hibridação dos
nossos modos de difusão, distribuição e de comunicação.
Passamos das audiências de massa às comunidades de
interesse que reúnem coletivos de usuários, comunidades epis-
têmicas e comunidades de amadores. E há também uma deman-
da da indústria por novas perspectivas de pesquisa; a indústria
solicita aos pesquisadores em comunicação que elaborem estra-
tégias mistas, audaciosas e inovadoras. A noção de metodolo-
gia mista é uma noção que está sendo retomada na América do
Norte. Trata-se de se desenvolver metodologias que combinem a
parte quantitativa e a parte qualitativa desses estudos.
Nesse sentido, finalizo com a pergunta: os estudos de
recepção têm futuro? Estamos assistindo a uma espécie de es-
gotamento dos estudos de recepção em sua forma convencional,
seja em relação aos trabalhos sobre a decodificação, seja sobre
a etnografia. Há outro limite dos estudos de recepção clássicos
que diz respeito ao fato de talvez serem muito dependentes de
modelos teóricos da comunicação que foram modelos canôni-
cos, com emissor, mensagem e receptor. Por definição, se fala-
mos sobre recepção, é porque postulamos estes polos. Talvez
haja necessidade de superar epistemologicamente essa visão do
modelo teórico da comunicação.
Especificamente, a audiência e a recepção são ainda
objetos legítimos e pertinentes de pesquisa, neste contexto de