Midiatização e redes digitais: os usos e as apropriações entre a dádiva e os mercados
tos enredos
das telenovelas que vão ter uma repercussão? Por
exemplo, sobretudo nas conversas que esta pessoa pode ter com
seus filhos? O último desafio é explicar a diversidade e distribui-
ção das interpretações e das significações em relação aos grupos
de pertencimento e de biografias específicas.
Decodificação e interpretação de mensagens –
primeira geração
Eu gostaria agora de aprofundar um pouco mais os tra-
balhos realizados pelos pesquisadores de Birmingham, apresen-
tando o modelo de Stuart Hall e os trabalhos de David Morley.
O interessante no que diz respeito ao modelo de Stuart
Hall é a distinção que ele estabelece entre três tipos de decodi-
ficação da mensagem. Há uma decodificação em termos de con-
formidade, outra em termos de negociação e outra em termos
de oposição. No primeiro caso, na prática de conformidade, o su-
jeito interpretante se conforma com a decodificação dominante.
Estamos aí numa figura de leitura prescrita, o que os americanos
e ingleses chamam de
preferred reading
. Em outras palavras, no
ponto da emissão, há uma intenção e se constrói uma mensagem
que é enviada, e ela é a mesma mensagem que é recebida. Então
há uma conformidade. Poderíamos dizer que há compreensão
de um ponto de vista da teoria da comunicação.
A segunda prática é a da negociação. O sujeito inter-
pretante negocia desvios em relação à codificação dominante e
a adapta
à sua significação. Vejamos um exemplo de emissão:
Um programa de televisão nos apresenta um conflito entre pa-
trões e sindicatos, e há algo implícito na mensagem, que é o fato
de que os patrões conseguiram se esforçar e resolver o proble-
ma. E, no ponto de recepção, o sujeito interpretante não vê as
coisas assim e acha que os patrões precisam ainda avançar. Há
uma negociação; ele compreende a mensagem, mas, talvez em
função das suas convicções, vê outra coisa. Há realmente aí uma
negociação. No último caso, na prática de oposição, o sujeito inter-
pretante opõe o seu próprio código à codificação dominante. Ele
não compartilha absolutamente desse código. Um exemplo, evi-