Midiatização e redes digitais: os usos e as apropriações entre a dádiva e os mercados
to familiar e doméstico a partir de observações e entrevistas, e
observamos que o contexto familiar destas situações de recep-
ção é bastante complexo. Certas atividades são da ordem da vida
doméstica comum. Outros elementos estão
ligados à relação
com os vizinhos, rituais são adotados na família. Muitas vezes,
a refeição é um ritual, e toda uma reflexão foi realizada sobre a
refeição como ritual e o lugar da televisão nessas
relações. Há
famílias que desligam a televisão para reservar um espaço para
o ritual da refeição, e outras famílias são invadidas pela televisão
durante as refeições. Vemos, então, uma grande diversidade de
práticas de recepção no espaço doméstico.
Um terceiro ponto diz respeito aos trabalhos que foram
realizados sobre o
zapping
. Não podemos imaginar a televisão
sem zapear. Eu diria que o
zapping
nos remete a um modo de
receber a televisão que não está mais orientado para programas
específicos. É simplesmente a ideia de estar conectado ao fluxo
das imagens. Eu me conecto ao fluxo das imagens passando de
uma a outra, e, a rigor, poderíamos dizer que há a recepção de
uma espécie de programa global. Uma noite à frente da televisão
não significa: eu assisti a um primeiro programa, depois a outro.
Hoje o telespectador é telespectador de um programa televisivo
global. Não há
nenhum programa idêntico ao outro. Cada um,
cada indivíduo, constrói o seu programa global a partir das suas
práticas de escolha, de seleção e de
zapping
. Aqui eu termino a
apresentação da segunda geração de trabalhos.
Terceira geração – enfoques construtivistas
Vou continuar, então, com a terceira geração de traba-
lhos sobre recepção, que chamo de orientações construtivistas.
Também poderíamos falar de orientações reflexivas. Os pesqui-
sadores que já tinham realizado trabalhos sobre recepção pro-
cedem, a partir dos anos 90, a uma reflexão sobre as categorias
com as quais eles pensaram a recepção. Uma das categorias que
é apresentada e criticada é a categoria de público. O que é um
público, então?
Remeto a um colega de pesquisa: Dayan (1990). Desse
texto, gostaria apenas de assinalar que, quanto à figura do públi-