Table of Contents Table of Contents
Previous Page  27 / 282 Next Page
Information
Show Menu
Previous Page 27 / 282 Next Page
Page Background

Midiatização e redes digitais: os usos e as apropriações entre a dádiva e os mercados

dentemente radical: estamos no Afeganistão numa barraca, há

uma televisão ligada, e é a série Dallas que está passando na te-

levisão. E o talibã está assistindo a este programa. E diz: “Bom, aí

está a grande burguesia americana que se apresenta neste pro-

grama. É por isso que devemos abater a civilização ocidental”.

Observem que é outro código, ao passo que a mensagem do pro-

grama Dallas era ligada

ao fato de que até mesmo os ricos têm

problemas. Mas a decodificação, neste caso, é totalmente feita a

partir de outro código, a partir de outro registro.

Agora, nos direcionamos

ao trabalho de David Morley:

ele realiza o programa de pesquisa proposto por Stuart Hall

e trabalha sobre um programa de entretenimento chamado

Nationwide

. É um programa que trata de temas

que estão na

agenda

pública, mas de uma forma de entretenimento da tele-

visão BBC. E vai privilegiar um programa especial do orçamento

britânico. A pesquisa vai tratar do programa especificamente.

Ele considera a hipótese de que a inscrição social, em termos

de nível de escolaridade, de tipo de emprego dos telespectado-

res explica o seu modo de construção dos significados. Eles vão

escolher, então, os tipos de decodificação dos quais falei, em fun-

ção da sua origem. Esta é a hipótese dele. De um ponto de vista

metodológico, ele vai trabalhar sobre a organização semiótica

da mensagem. Ele

tenta observar do que se trata.

É interessante observar que desde o início, em 1978, a

equipe de Birmingham tem uma preocupação em relação à cate-

goria da hegemonia. Em vez de se perguntar o que diz o progra-

ma, os pesquisadores se perguntam sobre aquilo que o progra-

ma não precisa dizer, aquilo que é tomado como óbvio; a ideia

de algo tomado como evidente é uma ideia fundamental para

entender a hegemonia.

Quanto à primeira etapa, a metodologia da equipe

de Morley consiste em tentar entender do que se trata, e esta

é a chave com a qual eles vão poder definir o

preferred rea-

ding.

Se refletirmos a partir daí, vemos um paradoxo. Porque,

no fundo, com que direito a equipe de Morley pode dizer que

isto ou aquilo é o

preferred reading

? Sempre há a possibilida-

de de ver outra leitura. Em outras palavras, o pesquisador é

também um sujeito interpretante. Então, temos aí uma questão

epistemológica.