Midiatização e redes digitais: os usos e as apropriações entre a dádiva e os mercados
dentemente radical: estamos no Afeganistão numa barraca, há
uma televisão ligada, e é a série Dallas que está passando na te-
levisão. E o talibã está assistindo a este programa. E diz: “Bom, aí
está a grande burguesia americana que se apresenta neste pro-
grama. É por isso que devemos abater a civilização ocidental”.
Observem que é outro código, ao passo que a mensagem do pro-
grama Dallas era ligada
ao fato de que até mesmo os ricos têm
problemas. Mas a decodificação, neste caso, é totalmente feita a
partir de outro código, a partir de outro registro.
Agora, nos direcionamos
ao trabalho de David Morley:
ele realiza o programa de pesquisa proposto por Stuart Hall
e trabalha sobre um programa de entretenimento chamado
Nationwide
. É um programa que trata de temas
que estão na
agenda
pública, mas de uma forma de entretenimento da tele-
visão BBC. E vai privilegiar um programa especial do orçamento
britânico. A pesquisa vai tratar do programa especificamente.
Ele considera a hipótese de que a inscrição social, em termos
de nível de escolaridade, de tipo de emprego dos telespectado-
res explica o seu modo de construção dos significados. Eles vão
escolher, então, os tipos de decodificação dos quais falei, em fun-
ção da sua origem. Esta é a hipótese dele. De um ponto de vista
metodológico, ele vai trabalhar sobre a organização semiótica
da mensagem. Ele
tenta observar do que se trata.
É interessante observar que desde o início, em 1978, a
equipe de Birmingham tem uma preocupação em relação à cate-
goria da hegemonia. Em vez de se perguntar o que diz o progra-
ma, os pesquisadores se perguntam sobre aquilo que o progra-
ma não precisa dizer, aquilo que é tomado como óbvio; a ideia
de algo tomado como evidente é uma ideia fundamental para
entender a hegemonia.
Quanto à primeira etapa, a metodologia da equipe
de Morley consiste em tentar entender do que se trata, e esta
é a chave com a qual eles vão poder definir o
preferred rea-
ding.
Se refletirmos a partir daí, vemos um paradoxo. Porque,
no fundo, com que direito a equipe de Morley pode dizer que
isto ou aquilo é o
preferred reading
? Sempre há a possibilida-
de de ver outra leitura. Em outras palavras, o pesquisador é
também um sujeito interpretante. Então, temos aí uma questão
epistemológica.