Midiatização e redes digitais: os usos e as apropriações entre a dádiva e os mercados
Em suma, para retomar a metodologia de Morley, numa
primeira etapa eu tento entender o que está na mensagem. Na
segunda etapa, passa-se a imagem a diferentes grupos, eu vou
mostrá-la a estes grupos. O modo como estes grupos são consti-
tuídos nessa definição é um pouco fantasioso. Esta é uma crítica
que é feita aos trabalhos de Morley: não é muito sistemático. Em
suas rotinas de pesquisas, vão buscar isso do lado dos estudan-
tes, de pessoas que eles conhecem nos sindicatos e constituem
determinados grupos. Vou apresentar, daqui a pouco, alguns de-
talhes destes grupos. Ele tenta saber se estes diferentes grupos
desenvolvem práticas diferentes em termos de conformidade,
negociação ou oposição.
O que constatamos, por exemplo, é que um grupo for-
mado por executivos de empresas constrói leituras em termos
de práticas de conformidade. Outro grupo, constituído por es-
tudantes da área da educação ou estudantes de artes, vai
cons-
truir práticas em termos de negociação. Já o grupo proveniente
dos sindicatos vai produzir leituras em termos de oposição ou
de negociação. E, por fim, um último grupo formado por estu-
dantes negros, do nível pré-universitário, não se reconheceu
no discurso; eles não conseguiram e ficaram indiferentes a este
discurso. As conclusões de Morley em 1980 o levaram a dizer
que as práticas de decodificação não podem corresponder real-
mente, de uma forma simples, a posturas socioeconômicas por-
que indivíduos de um mesmo grupo socioeconômico vão desen-
volver leituras diferentes. Então, temos aí uma não confirmação
das hipóteses.
Em 2004, um sociólogo particularmente voltado para
as estatísticas decidiu realizar uma releitura dos estudos de
Morley e desconstruiu completamente todos os materiais para
reconstruí-los em termos de categorias estatísticas. Ele fez um
trabalho estatístico que foi apresentado num artigo que está pu-
blicado na revista
Cultural
Studies
de 2004. Conseguiu encon-
trar maior coerência, confirmando, portanto, mais as hipóteses
de Morley do que ele próprio confirmou. A título de exemplo, ele
diz que os telespectadores que provêm da classe média produ-
zem leituras em termos de negociação e que os telespectadores
provenientes de classes operárias produzem tanto práticas de