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Midiatização e redes digitais: os usos e as apropriações entre a dádiva e os mercados

uma crítica da cultura de massa. A cultura de massa é vista como

mecanismo de alienação ideológica, própria do capitalismo.

Até os anos 70, as análises críticas se voltaram muito

mais para o polo dos emissores. Fala-se, então, de concentração

econômica das mídias. Fala-se da dominação das indústrias cul-

turais, análises ideológicas do discurso midiático. Porém, o polo

da recepção vai permanecer relativamente ignorado. É claro que

temos aí uma visão um pouco caricaturada. Se nos

aprofundar-

mos, vamos ver que Adorno tinha preocupações relacionadas

com uma história do telespectador, mas ele nunca teve tempo

para desenvolver realmente isso.

Paralelamente, nos anos 60 surgiram os centros de es-

tudos culturais de Birmingham na Inglaterra, mas só entre 1973

e 1975 Stuart Hall, o líder dessa tradição de Birmingham, iria

abalar essa tradição crítica dizendo que, na verdade, a análise da

função ideológica das mídias passa, também, por uma conside-

ração das práticas de recepção. Isso porque, até então, a questão

da função ideológica tinha sido tratada ora por estudos sobre as

salas de redação, sobre os jornalistas, ora por

estudos de con-

teúdo dos produtos de mídia, sendo deixado de lado o polo da

recepção. Stuart Hall nos propôs, então, em 1973, ummodelo de

codificação e decodificação para a análise das mídias. Ele nos diz

que se quisermos, realmente, pensar a função ideológica das mí-

dias, precisamos descrever os processos de codificação no ponto

de produção, ao mesmo tempo em que devemos pensar, tam-

bém, os processos de decodificação na recepção. Destaco que,

na verdade, o que aconteceu é que, a partir de Birmingham, essa

perspectiva iria

se concentrar mais na decodificação, como se o

modelo teórico de Stuart Hall não tivesse sido levado completa-

mente em consideração.

Houve uma concentração na questão da decodifica-

ção, e foi David Morley, um sociólogo britânico, que, em 1978,

iniciou a realização de pesquisa sobre a recepção proposta por

Stuart Hall. Gostaria de encerrar aqui o que chamei de segundo

capítulo, sobre o lugar dos estudos de recepção no conjunto da

história dos estudos de comunicação, dizendo que falei de uma

convergência de perspectivas. Veremos que existem tensões

ideológicas e contradições, mas a Escola de Columbia e a Escola

de Estudos Culturais estão no mesmo terreno. É bastante fas-