

Midiatização e redes digitais: os usos e as apropriações entre a dádiva e os mercados
cinante observar que duas escolas em situação de contradição
epistemológica acabam dizendo a mesma coisa. Encontramos
pesquisadores, nas duas escolas, que trabalham sobre a deco-
dificação da série televisiva Dallas. É fascinante. Teríamos um
livro para escrever sobre o tratamento diferenciado do mesmo
corpus
por pesquisadores opostos; talvez não um livro, mas pelo
menos um artigo.
Gostaria de acrescentar aqui que, pessoalmente, co-
nheço muito pouco esta terceira corrente: a que diz respeito à
crítica literária, à cultura literária, à estética. Com essa corrente
também vamos ver o desenvolvimento de toda uma corrente da
estética da recepção. Eu diria que isso pode se conectar até che-
gar a Umberto Eco. Mas é realmente interessante observar que
há, aí, uma matéria de convergência com o campo da literatura.
As três gerações de pesquisa em recepção
Vou passar agora a falar da sociologia da recepção ou,
pelo menos, dos
estudos de recepção tal como foram desenvol-
vidos tanto no terreno das ciências humanas quanto das sociais,
e mais especificamente no campo das ciências da informação e
comunicação. Descreverei as três gerações de trabalhos sobre a
recepção. A primeira delas postula que os telespectadores têm
uma competência em decodificação. Vou apresentar daqui a
pouco
esta primeira geração. A segunda geração é aquela que
tenta entender os usos das mídias nos seus contextos da vida
cotidiana. Essa segunda geração é crítica em relação à primeira.
Tenta-se entender como se decodifica, mas o contexto também
é muito importante, e é
preciso descrever o contexto de uma
forma etnográfica. E a terceira geração é mais construtivista, eu
diria. Ou mais epistemológica. E põe em xeque certas categorias
através das quais se pensou, até então, a recepção. E no quarto
capítulo falarei da linha diretriz de minhas reflexões atuais, ou
seja: será que não poderíamos imaginar uma quarta geração de
pesquisas que abraçariam a questão da recepção?
A primeira geração se debruça a sobre a questão da de-
codificação e da interpretação das mensagens. Apresento este
modelo partindo de três desafios epistemológicos que foram