Midiatização e redes digitais: os usos e as apropriações entre a dádiva e os mercados
este público. Foi nos anos 40 que surgiu a escola de Columbia,
sob a liderança de Paul Lazarsfeld. Esta escola se insere em opo-
sição, postula uma autonomia relativa do indivíduo, do receptor
diante das mensagens da mídia.
Escrevi um artigo com um de meus alunos onde expli-
co que existem três cristalizações teóricas acerca da escola de
Columbia. A primeira cristalização teórica se deu em torno do mo-
delo teórico de “duas etapas”, onde a comunicação se daria em
duas etapas, em que há líderes de opinião que filtram as mensa-
gens provenientes da mídia, e estes líderes podem, assim, con-
duzir os “seguidores”. É interessante que este modelo, já muito
antigo, pode ser retomado nas reflexões sobre as mídias e sobre
o Twitter. A segunda cristalização teórica foram as correntes de
usos e gratificações. Os pesquisadores de Columbia se debruça-
ram sobre o que eles já tinham feito e fizeram uma autocrítica,
dando-se conta de que talvez fossem muito “mídia-centrados” e
talvez devessem se interessar mais “pelo que as pessoas fazem
com as mídias”, e não “pelo que as mídias fazem para as pessoas”.
Na minha obra
Sociologia da Comunicação
(BRETON; PROULX,
2006), falo dessa corrente. A partir dessa corrente surgiram ou-
tras correntes de estudos, porque, digamos, se percebeu que a
corrente de usos e gratificações era muito limitada e permane-
cia na superfície. Mesmo interessando-se pelo que as pessoas
faziam com as mídias, não se estava ainda abrindo a caixa-preta
midiática. Com os estudos de recepção, passamos a nos interes-
sar mais pela interpretação dos conteúdos por parte dos in-
divíduos que se constituem como comunidade interpretativa
e que vão buscar dentro da sua comunidade materiais para
ajudá-los a interpretar as mensagens (sugerindo um retorno a
Gabriel Tarde: a mídia oferece um cardápio para as conversa-
ções privadas).
Aqui é importante falar da tradição mais crítica, pois é
importante observar que os estudos de recepção surgiram tanto
na tradição positivista da escola de Columbia, quanto na tradição
crítica. Podemos afirmar que foi principalmente na crítica. Aqui,
o marco são os trabalhos da Escola de Frankfurt, que propõem