Midiatização e redes digitais: os usos e as apropriações entre a dádiva e os mercados
o fato de o doador estar implicado naquilo que doou. A lógica
da doação (ou a cultura da contribuição), a partir da realidade
vivenciada com as tecnologias digitais, necessita ainda de refle-
xão. Ainda assim, cremos que as reflexões de Serge Proulx cola-
boram para pensar esse modo de interagir e as especificidades
de tal ambiência:
O contribuidor é produtor de conteúdo e, ao mes-
mo tempo, fornecedor de dados. Ou seja, quando
alguém comenta um blog, está produzindo con-
teúdos. [...] os dados,
rastros
, que os usuários dei-
xam pelas redes sociais. Nossos números, nossos
protocolos, nossos ‘IPs’ ali ficam, nosso endereço
virtual, e muitas coisas mais vão ficando pelo ca-
minho, nessa situação de produtores de conteúdo
e contribuintes. Quando se está num site da rede
social o próprio laço social se torna fonte econô-
mica (PROULX, 2013).
É a partir desse enfoque que consideramos a questão
da economia de contribuição central para pensar a reconfigura-
ção pelo qual passou, e continua passando, o campo do turismo.
Essa nova forma de fazer as coisas provocou mudanças mer-
cadológicas, as quais se refletem na relação que tais empresas
empreendem na atualidade com seus clientes. A constituição de
uma empresa leva em conta que, cada vez mais, os sujeitos estão
inseridos no ambiente virtual e participam das redes.
Esta é a transformação informacional que permite
a uma empresa desenvolver uma publicidade afia-
da e alvo de novas práticas de marketing viral para
gerar grandes lucros. O século XXI é, portanto, um
capitalismo informacional baseado no uso das
tecnologias digitais e na lógica da contribuição de
muitos para assegurar a criação de valor econômi-
co baseado em uma capitalização de informação e
conhecimento (PROULX, 2012, p. 1).
Ou seja, o sujeito utilizador dos recursos tecnológicos
digitais contribui, de forma espontânea ou não, para a moneta-
rização de conteúdos, dos dados e, até mesmo, dos laços sociais.