Midiatização e redes digitais: os usos e as apropriações entre a dádiva e os mercados
econômico, social, cultural, político, etc. É preciso considerar
que a questão de fundo na diferenciação entre a sociedade dos
meios (ou midiática) e a sociedade em midiatização é o desen-
volvimento de tecnologias intensamente transformadas em
novos meios de comunicação, de interação. Na sociedade dos
meios, a ênfase da atividade interacional passava pela centra-
lidade dos meios, e no âmbito da sociedade em midiatização,
além da organização social e dos processos discursivos, em di-
ferentes instâncias – religião, política, educação, ciência, etc. –,
as práticas são afetadas por lógicas midiáticas, pela cultura das
mídias. Na sociedade em midiatização, as mediações podem
ser compreendidas como um “[...] processo informacional, a
reboque de organizações empresariais e com ênfase num tipo
particular de interação – a que poderíamos chamar de ‘tecnoin-
teração’ –, caracterizada por uma espécie de prótese tecnológi-
ca e mercadológica da realidade sensível, denominada
medium
”
(SODRÉ, 2008, p. 21). Nesse contexto, as interações se fazem
mais por relações sociotécnicas do que por tradicionais víncu-
los sociais. Isso significa que houve transformações no âmbito
das mediações e das interações, o que representa ainda mu-
danças nas concepções de espaço e tempo, construindo uma
nova realidade social, aquela advinda de ligações sociotécnicas
(FAUSTO NETO, 2006). Essa nova organização social é descontí-
nua e complexa, ao contrário do que supuseram anteriormente
alguns paradigmas comunicacionais que consideravam que a
sociedade seria cada vez mais marcada por uma uniformidade.
A atualidade se mostra bem diversa, já que, nos últimos anos, o
consumo de um tipo específico de mercadoria imprime marcas
nas práticas da contemporaneidade:
A cadência dessa sociedade é regulada pela velo-
cidade com que se desenvolvem as tecnologias.
Quando surgem novos mecanismos tecnológicos
de informação e comunicação ou novas maneiras
de utilizá-los, podemos verificar inúmeras movi-
mentações que acabam por reestruturar o espaço
social, pautando-se pelas rotinas sociais e reajus-
tando a cultura vigente (SGORLA, 2009, p. 64).