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Midiatização e redes digitais: os usos e as apropriações entre a dádiva e os mercados

Podemos pensar, então, que a adesão da sociedade a

uma cadência cada vez mais marcada pela tecnologia configura

uma das especificidades que distingue a sociedade dos meios da

sociedade em midiatização. Trata-se, conforme Sgorla (2009),

do consumo de aparatos técnicos que implicam mudanças no

espaço social, indicando que o desenvolvimento de tecnologias

é questão basilar na sociedade emmidiatização. Basilar, mas não

determinante, pois não é a tecnologia que marca as rotinas, e

sim o uso que fazemos delas.

Sobre a tecnologia disponibilizada é preciso ainda

que se desenvolvam

invenções sociais

de direcio-

namento interacional. Essas invenções são talvez a

parte mais importante da questão. É porque a so-

ciedade decide acionar tecnologias em um sentido

interacional que estas se desenvolvem – na enge-

nharia e na confrontação social (BRAGA, 2012, p.

36).

É preciso compreender que, seguindo a concepção de

Braga (2006), a midiatização afeta a nossa realidade social, pois

“construímos

socialmente

a realidade social exatamente na me-

dida em que, tentativamente, vamos organizando possibilidades

de interação” (p. 3). E o modo de interagir mudou sobremaneira,

visto que “a estrutura social, política e econômica da sociedade

midiatizada é tecida com base em gramáticas que ditam a visibi-

lidade, anunciabilidade e a publicização exacerbada dos atores

sociais” (SGORLA, 2009, p. 64).

Essa possibilidade de fazer ver e de fazer circular as

próprias produções enunciativas provoca uma segunda especifi-

cidade: no âmbito da sociedade dos meios, e com a centralidade

do campo das mídias, havia a prevalência do dizer sobre o fazer,

enquanto que na sociedade em midiatização ocorre a intensifi-

cação da migração da palavra para a imagem, do discurso para

a representação. A lógica da visibilidade é um fenômeno intrín-

seco à sociedade (DEBORD, 1997), porém aumentou exponen-

cialmente com os novos dispositivos tecnológicos. Há de se con-

siderar, então, que o comportamento reservado da vida privada

e cotidiana passa na atualidade por uma reconfiguração. Novos

protocolos de interação, tecidos a partir de gramáticas de visibi-