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Midiatização e redes digitais: os usos e as apropriações entre a dádiva e os mercados

O que nós descobrimos foi que as mesmas pessoas, entrevista-

das no âmbito dos grupos focais, diziam coisas novas que não fo-

ram abordadas na entrevista individual. Foi muito interessante

essa pesquisa.

Encerrei meu programa sobre os estudos de recepção

com uma pesquisa mais epistemológica, de três anos, que reali-

zei com outro colega. Tentamos explorar algo que vou abordar

um pouco mais adiante neste artigo, que se chama, na lingua-

gem das mídias, de dupla articulação. Em outras palavras, nossa

pesquisa está contextualizada pelas tradições de estudos sobre

recepção e sobre os usos. Sobre a recepção, quando busca enten-

der as interpretações das mensagens. E estudos sobre os usos,

que tentam perceber a apropriação do objeto técnico. Na pri-

meira tradição, sobre a recepção, interessa-nos mais o campo do

simbólico. E na segunda tradição (usos), estamos mais ligados à

apropriação do objeto técnico. Então, há uma dupla articulação

entre o simbólico e o material.

Procuramos, de um ponto de vista epistemológico,

criar uma imagem especular entre as imagens das expectativas

dos espectadores e o sentido da apropriação do objeto técnico.

É como se prefigurássemos o que ia acontecer com a

web

social,

que ainda não tinha surgido. Publicamos alguns artigos sobre o

que chamamos de emergência de novos sujeitos comunicantes.

Eu gostaria de voltar a este assunto, no meu próprio programa

de pesquisa atualmente, se tivesse de refletir sobre uma episte-

mologia da comunicação no momento atual. Termino aqui mi-

nha própria trajetória explicitando a hipótese central derivada

desse percurso: há uma

emergência de um novo “sujeito comu-

nicante” no contexto da convergência entre digitalização e mun-

dialização. Voltarei a esse ponto.

Contexto teórico

Vou abordar agora o lugar dos estudos de recepção na

história das pesquisas em comunicação. Até os anos 40, no ní-

vel das pesquisas em comunicação temos uma visão unidimen-

sional do público como massa, como uma massa homogênea,

e,

portanto, imagina-se que as mídias teriam efeitos diretos sobre