Midiatização e redes digitais: os usos e as apropriações entre a dádiva e os mercados
as mídias e as produções enunciativas de seus especialistas que
detinham a legitimidade para colocar em curso, explicitar, os
discursos na esfera pública
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O campo das mídias
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desempenhou papel central na
sociedade na segunda metade do século XX, tendo a incumbên-
cia e o poder de selecionar os temas ‘dignos’ de serem apresen-
tados nas suas produções discursivas, temas estes pertencentes
a outras esferas da atividade humana
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que não a sua. A pressão
que exerceu, e ainda exerce, sobre os outros campos, num pri-
meiro momento, parece ser uma imposição das mídias. E efeti-
vamente é, mas não significa que seja arbitrária. Afinal, a esfera
midiática somente teve e ainda detém tal capacidade a partir
da legitimação conferida pelos outros campos sociais. Assim, o
campo midiático tem uma legitimidade delegada (RODRIGUES,
1997), o que não significa que, ao se apropriar de discursos de
outrem, não os impregne com competências próprias.
Essa concessão dos demais campos se assenta não só
na habilidade enunciativa da esfera midiática, mas também no
fato de as mídias deterem, até pouco tempo atrás, a exclusivi-
dade sobre dispositivos tecnológicos de ‘emissão’. Estamos nos
referindo às práticas sociais de uma sociedade dos meios. Com o
advento das novas tecnologias, essa mediação passou a ser alte-
rada, eis que os dispositivos da atualidade permitem a interação
entre os públicos sem obrigatoriamente depender da anuência
de uma instituição midiática e da concessão (escolhas) dos pro-
fissionais da área.
A possibilidade de ‘acesso’ à esfera pública tem provo-
cado ainda reconfigurações nas operações comerciais dos mais
distintos campos. Se antes uma empresa que buscava ofertar
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Esfera pública, aqui também denominada espaço público, é uma noção apresen-
tada em 1978 por J. Habermas (1984) para diferenciar uma esfera intermediária
entre a vida privada e o Estado. Não temos neste estudo a intenção de aprofun-
dar tal concepção, mas é preciso considerar que a esfera pública, o espaço onde
questões da atualidade se tornam visíveis ao grande público, sofreu e ainda
sofre mudanças substanciais conforme a sociedade dos meios migra para uma
sociedade em midiatização.
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Seguimos as concepções de Bourdieu (2009) e Rodrigues (1997) sobre campo
e campo das mídias.
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Utilizamos a denominação ‘esfera’, na compreensão de Bakhtin/Volochinov
(1999), como sinônimo de ‘campo’ por considerar que tais noções não são ex-
cludentes, mas complementares (LIMA, 2010).