Midiatização e redes digitais: os usos e as apropriações entre a dádiva e os mercados
de novas, que respondam aos desejos e necessidades religiosos
específicos, como a criação da plataforma evangélica
Faceglória
).
Assim, a apropriação aponta para uma “multiplicida-
de de ‘táticas’ articuladas” (CERTEAU, 2012, p. 41) na relação
dos indivíduos com as plataformas digitais, articulando usos
específicos e práticas estabelecidas, o que pode gerar “inume-
ráveis e infinitesimais metamorfoses” (ibid., 40) não apenas
sobre o aparato eletrônico, mas, a partir dele, sobre o funciona-
mento dos campos sociais em geral – inclusive a religião. Tais
microrresistências são constituídas pelas “mil práticas pelas
quais usuários se reapropriam do espaço organizado pelas téc-
nicas da produção sociocultural” ou eclesial (ibid., p. 41). No
processo de apropriação, portanto, manifestam-se “possibili-
dades de autonomia e de emancipação para os indivíduos e os
grupos” (PROULX, 2008, p. 2, trad. nossa)
Em nosso caso, a apropriação das plataformas digitais
para práticas religiosas faz surgir elementos de novidade que
geram efeitos tanto sobre o próprio processo de uso das redes
sociais digitais quanto sobre a prática religiosa em seus desdo-
bramentos sociossimbólicos. Nesse sentido, a apropriação reli-
giosa das redes digitais, mediante experimentações religiosas
e “práticas bricoladoras” (CERTEAU, 2012), aponta para novas
formas de construção social de sentidos religiosos, em novos flu-
xos de circulação comunicacional, como veremos.
3 O Facebook e o “católico”, entre usos sociais e
apropriações religiosas
A partir da reflexão dos conceitos de uso e apropriação,
queremos aqui analisar as relações específicas entre tecnologias
de comunicação, práticas discursivas e ações simbólicas por par-
te de indivíduos e grupos religiosos católicos. Escolhemos uma
rede social digital específica, o Facebook, na qual percebemos
marcas da Igreja-instituição e de usuários individuais e coleti-
vos que criam e se congregam em “páginas” explicitamente re-
lacionadas com o catolicismo. Para além dos usos individuais de
cada usuário em seu perfil pessoal, interessa-nos a apropriação
sociorreligiosa em ambientes públicos da plataforma Facebook.