Midiatização e redes digitais: os usos e as apropriações entre a dádiva e os mercados
GUIBERRY; PROULX, 2011). A plataforma Facebook molda, or-
ganiza e estrutura as práticas católicas (inclusive em seu mais
alto nível institucional), valorizando certos aspectos e elemen-
tos da comunicação em detrimento de outros. Por outro lado,
também é possível constatar uma
socialização
dos usos tecno-
lógicos, visto que a multiplicidade de ações e práticas sociais a
partir das tecnologias faz emergir invenções criativas, que po-
dem levar a restrições de usos ou a “novas inovações”. Inova-
ção tecnológica e invenção social, emmeio a condicionamentos
e autonomias de diversas ordens, portanto, se articulam e se
complexificam.
Em suma: a criatividade social – neste caso manifes-
tada por uma apropriação de uma plataforma tecnológica por
parte de uma instituição social como a Igreja – se expressa me-
diante invenções sobre determinadas tecnologias, e, por outro
lado, a inovação tecnológica é prática e contextualmente social.
Há, portanto, uma hibridação, uma dupla mediação:
tecnológi-
ca
, pois a plataforma molda e estrutura determinadas práticas
sociais; mas também e ao mesmo tempo
social
, visto que os
usos sociais, por sua vez, moldam e reestruturam a tecnologia
(SBARDELOTTO, 2012b).
A Igreja-instituição, apropriando-se das redes digitais,
gera novos ambientes para a publicização e a socialização de suas
crenças, discursos e práticas. A coevolução, portanto, não é ape-
nas sociotécnica – nas interações entre o usuário e a plataforma
Facebook –, mas também envolve um âmbito simbólico, median-
te o qual tais interações são embebidas em práticas religiosas
específicas do catolicismo.
Contudo, a sociedade em geral, graças à acessibilidade e
à facilidade de uso de tais plataformas, também pode agora
falar
publicamente sobre
o catolicismo, retrabalhando, ressignificando,
ressemantizando, reconstruindo a sua experiência e o seu ima-
ginário religioso. Indivíduos e grupos específicos podem agora
atualizar suas crenças para novos agentes sociais e para públicos
aindamaiores, emuma trama complexa de sentidos. Esse é o caso
da página
Catecismo da Igreja Católica
6
(Fig. 2).
6
Disponível em: <https://www.facebook.com/catecismobrasil>.