Midiatização e redes digitais: os usos e as apropriações entre a dádiva e os mercados
com a comunicação digital em rede. Por práticas, entendemos o
“quadro de exercício de uma atividade” social (JAURÉGUIBERRY;
PROULX, 2011, p. 83, trad. nossa), como as ações e gestos reli-
giosos compartilhados por uma comunidade específica. Assim,
é preciso analisar os usos também no quadro das “práticas pes-
soais e sociais dos indivíduos que agem no tecido organizacio-
nal” (ibid., p. 25, trad. nossa), como as práticas religiosas.
Quando os usos das tecnologias são feitos com modali-
dades próprias a certos âmbitos socioculturais, ou se articulam
com práticas sociais estabilizadas nesses âmbitos, ou se em-
bebem em valores simbólicos específicos a tais âmbitos – por
exemplo, o religioso –, estamos diante de um fenômeno mais
complexo. Diante do prolongamento histórico, do aprofunda-
mento cultural e da ressignificação simbólica dos usos técnicos
em “sincronia com momentos de transformação objetiva e sig-
nificativa” (PROULX, 2008, p. 5, trad. nossa) de práticas sociais
específicas já estabilizadas – como as religiosas –, podemos falar
de um processo de
apropriação
, tanto individual quanto social,
das tecnologias ou plataformas sociotécnicas. A apropriação se
manifesta, portanto, quando usos sociotécnicos são integrados
em práticas historicamente consolidadas (como as religiosas),
ou quando tais práticas passam a ser reinventadas mediante a
sua articulação com usos sociotécnicos (no Facebook, por exem-
plo), ou ainda quando tais usos passam a ser investidos de signi-
ficações religiosas.
A apropriação se apresenta como um processo de
constituição pessoal e social, “uma matriz técnica e cognitiva do
objeto, integração significativa e criadora do uso na vida coti-
diana, possibilidades de reinvenção do uso e de participação no
próprio processo de inovação sociotécnica” (JAURÉGUIBERRY;
PROULX, 2011, p. 25, trad. nossa). No caso da apropriação re-
ligiosa do Facebook, as matrizes operacionais disponibilizadas
pela plataforma são ativadas por um conjunto de práticas sociais
específicas, integrando a plataforma na execução de gestos re-
ligiosos (como o envio de orações), desdobrando a plataforma
a partir de novos modelos de cognição (como quando o “cur-
tir” recebe uma nova carga simbólica espiritual, semelhante ao
“amém”), chegando até a inovações sociotécnicas (mediante, por
exemplo, o abandono de plataformas anteriores e o surgimento