Midiatização e redes digitais: os usos e as apropriações entre a dádiva e os mercados
em que a sociedade não apenas cumpre os usos previstos pelos
projetistas dos aparatos, mas também os desdobra em novos
usos experimentais – incluindo ações especificamente comuni-
cacionais a partir de tecnologias não necessariamente pensadas
para esse fim – e até mesmo subversivos, mediante
invenções so-
ciais
sobre as tecnologias e para além delas, como, por exemplo,
as práticas religiosas no Facebook.
Surge, assim, uma inter-relação entre inovações tecno-
lógicas e invenções sociais: novos desejos ou necessidades so-
ciais demandam uma inovação tecnológica, pois as tecnologias
existentes não responderiam a tais desejos ou necessidades (ou
vice-versa). Com o surgimento de tal inovação, a sociedade em
geral vai inventando novas funções não pensadas previamente ou
subverte as funções previstas para tal tecnologia. Isso dá origem a
novos desdobramentos que poderão vir a dar forma a novas ino-
vações tecnológicas, e assim por diante.
As tecnologias digitais da informação integram e arti-
culam as funções de transmissão e de difusão, mas permitem a
instauração de interações à distância e um regime de reciproci-
dade na comunicação (JAURÉGUIBERRY; PROULX, 2011). As no-
vas plataformas tecnológicas e as novas necessidades e desejos
sociais, portanto, se desdobram em uma evolução gradual e pro-
gressiva, deixando para trás ummodelo de difusão dos meios de
comunicação, para novos modelos de
participação
(“fazer parte
de”) e de
cooperação
(“operar, agir com”), que se expressam em
uma pluralidade heterogênea e complexa de usos e apropria-
ções sociotécnicos.
Os
usos
podem ser entendidos como as experiências
individuais e sociais dos diversos sujeitos com e sobre a tecno-
logia: ou seja, “aquilo que as pesssoas fazem efetivamente com
os objetos e dispositivos técnicos” (JAURÉGUIBERRY; PROULX,
2011, p. 24, trad. nossa). Tal noção está “associada ao fato de
empregar, de utilizar o aparelho técnico, o instrumento, a fer-
ramenta, de uma maneira relativamente autônoma pelo sujeito
humano” (ibid., p. 80, trad. nossa). Ou seja, trata-se das rotinas e
padrões sociais emergentes na sua relação com as tecnologias,
“modos de fazer” com os aparatos e plataformas.
A inovação tecnológica, em sua concepção, já traz
introjetados certos “usos prescritos” a um “usuário virtual”