Table of Contents Table of Contents
Previous Page  151 / 282 Next Page
Information
Show Menu
Previous Page 151 / 282 Next Page
Page Background

Midiatização e redes digitais: os usos e as apropriações entre a dádiva e os mercados

(JAURÉGUIBERRY; PROULX, 2011): os designers

imaginam

os

possíveis usuários e usos que serão dados ao objeto tecnológi-

co e, assim, tentam

configurar

usuários e usos determinados,

integrando em seu próprio projeto determinadas predefinições

quanto aos modos de usar, aos usuários-alvo, a certos arranjos

de elementos operacionais e funcionais, etc. Exemplo disso são

as operações básicas, em nosso caso, do Facebook, que delimi-

tam certas ações aos seus usuários: “postar” (textos, links, fotos,

vídeos), “curtir”, “comentar” e “compartilhar”. Assim, um certo

modelo de usuário e de uso encontra-se inscrito na própria pla-

taforma técnica, que visa a condicionar o usuário. Como afirma

Scolari (2004, p. 239, trad. nossa), “cremos usar as interfaces,

mas na realidade também elas estão nos modelando”.

Diante dos limites e possibilidades que podem ser

retraçados na tecnologia, assim, é possível inferir também as

lógicas do seu “designer/programador virtual”, percebendo o

contexto de produção (valores, ideologias, objetivos) do qual

surgiu tal plataforma. O fabricante/programador visa a dis-

ciplinar a utilização, indicando bons usos e proibindo maus

usos. Promovem-se, assim, “determinações sociais dos usos”

(JAURÉGUIBERRY; PROULX, 2011). No caso dos “Padrões co-

munitários” do Facebook

4

, os bons usos são, por exemplo, “com-

partilhar experiências” com “propósitos legítimos”, “conectar-se

com amigos e causas”, “conscientizar sobre questões que são im-

portantes”, dentre outros; enquanto os maus usos dizem respei-

to a postagens que envolvam um “risco genuíno de danos físicos

ou ameaças diretas à segurança pública”, como roubos e vanda-

lismo, ou ainda “conteúdos sensíveis” (como nudez e temáticas

sexuais). Nessa relação, os usuários vão se modificando sub-

jetiva, social e cognitivamente – e, a partir disso, modificando

também os seus usos – mediante a sua interação com a tecno-

logia, dentro dos limites e possibilidades desta. Por outro lado,

a tecnologia também se transforma a partir dos usos ativos e

criativos dos usuários: estes não se sujeitam passivamente às

configurações dos aparelhos e das plataformas tecnossimbóli-

4

Disponível em <https://www.facebook.com/communitystandards>; tradução

nossa.