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Midiatização e redes digitais: os usos e as apropriações entre a dádiva e os mercados

ção comunicacional, pois, ao clicar em “curtir”, uma das funcio-

nalidades do Facebook é a de publicar notificações automati-

camente no perfil pessoal do usuário quando há qualquer nova

atividade da página “curtida”, facilitando o acesso aos novos

conteúdos. E, ao mesmo tempo, tal “curtida” circula nos fluxos

de conteúdos dos demais amigos da pessoa “curtidora”, que re-

cebem uma notificação de que “Fulano curtiu tal página”; nessa

processualidade do Facebook, o próprio “curtir”, portanto, tor-

na-se conteúdo para outras ações circulatórias da plataforma.

Como detalhe de não pouco significado, o número de

“curtidores” dessa página ultrapassa em grande quantidade os

“curtidores” da supracitada página oficial da Igreja, a

News.va

Português

(que soma pouco mais de 18 mil “curtidas”). Assim,

interações comunicacionais como o “curtir” revelam que, na

economia comunicacional do Facebook, são os próprios usuá-

rios que reconhecem a legitimidade, a competência e a expe-

riência de tais páginas e de seus administradores no âmbito

religioso. Tal página, na sua proposta específica, é investida de

um papel social de “especialista” (ou até mesmo de “autorida-

de”) sobre a doutrina católica, reconhecimento este que não lhe

foi dado pelas autoridades eclesiais oficiais. Estas continuam

detendo o poder de autenticar o que é “oficialmente católico”,

mas a sociedade vai gerando circuitos paralelos ou alternativos

em que o “oficial” vai perdendo espaço para aquilo que é “le-

gitimado” socialmente, mediante processos comunicacionais.

Por outro lado, ao entrar em diálogo com os seus res-

ponsáveis da página

Catecismo...

, de forma pública, nos comen-

tários de cada postagem, os usuários explicitam, por sua vez,

uma apropriação pessoal e social de um formato interacional

específico em relação às ofertas da página, expandindo, com o

seu discurso próprio, o ecossistema comunicacional específico.

O usuário escreve publicamente seus comentários à página por-

que reconhece na página (ou visa a criticar nela a falta de) uma

competência particular na temática em questão. Por outro lado,

a resposta da página ao usuário ratifica e reforça essa valoriza-

ção simbólica junto aos demais usuários.

O que se percebe nesses casos é justamente a manifes-

tação daquilo que Proulx & Millerand (2010) chamam de “uso

contributivo” na internet, isto é, formas de participação e de