Midiatização e redes digitais: os usos e as apropriações entre a dádiva e os mercados
cas (como o Facebook), mas, a partir de seus desejos, interes-
ses ou necessidades, efetuam ações não prescritas e desviantes,
reações e resistências. Tais ações dos usuários, por sua vez, ou
levam o aparelho tecnossimbólico a novos patamares, ao ofe-
recerem elementos para que seus produtores gerem melhorias
técnicas, ou levam ao abandono de tais aparelhos, em busca de
outros que respondam melhor às suas vontades.
Tanto as tecnologias quanto os usos prescritos ou efe-
tivamente concretizados sobre aquelas, por se inserirem em
uma determinada trajetória pessoal ou coletiva, também se ins-
crevem, portanto, em um tecido sócio-histórico dado, compor-
tando significações socioculturais. Por isso, é preciso perceber
que “o uso de uma técnica não é sociologicamente neutro: ele é
portador de valores e fonte de significações sociais para o usuá-
rio” (JAURÉGUIBERRY; PROULX, 2011, p. 24, trad. nossa). Desse
modo, as esferas técnica e social estão fortemente entrelaçadas
no tecido organizacional das ações e das associações entre os
agentes: as tecnologias nascem ancoradas no social, e os gestos
sociais, por sua vez, se dão ancorados em técnicas.
As mídias digitais e plataformas como o Facebook, por
exemplo, surgem como uma resposta a desejos, interesses ou
necessidades específicos de setores sociais em um dado mo-
mento histórico. Por se darem hoje em um contexto organizacio-
nal sócio-histórico e cognitivo específico, os usos de tais mídias
também revelam as significações culturais complexas e as ques-
tões políticas e éticas emergentes em uma sociedade altamen-
te conectada. Cada tecnologia, portanto, possui uma dimensão
ideológica, moral e político-social, ou seja, se desenvolve como
dispositivo de distribuição do poder na gestão das associações
entre as pessoas (JAURÉGUIBERRY; PROULX, 2011).
Os usos e as lógicas de uso das tecnologias, por não se-
rem neutros, se situam em um contexto específico de práticas
sociais e devem ser analisados a partir dessa perspectiva. Pois o
usuário investe uma tecnologia específica de significações sub-
jetivas, inscrevendo-a em um sistema de relações e valores so-
ciais específicos – em nosso caso, microculturas religiosas. Por
outro lado, os usos vão evoluindo no interior de uma história
já constituída de práticas sociais e comunicacionais específicas,
como a interface entre o catolicismo brasileiro e sua relação