Midiatização e redes digitais: os usos e as apropriações entre a dádiva e os mercados
assim, uma presença específica, “católica”. A Igreja, portanto, se
apropria desses elementos, dando-lhes um sentido religioso, em
um espaço público em rede não vinculado diretamente ao fenô-
meno religioso ou à instituição eclesial.
Esse processo de apropriação da plataforma por parte
da Igreja ganha um desdobramento de complexidade a partir do
momento em que, estabilizada e “catolicizada”, a página passa a
se constituir como um “microuniverso religioso” dentro do “ma-
crouniverso Facebook”. Assim, a página
News.va Português
, ago-
ra como ambiente “autônomo”, estabelece alguns protocolos aos
seus leitores, que reconfiguram a interface inicial da plataforma
em relação aos seus possíveis usos.
No campo “Sobre”, percebemos pistas para uma possí-
vel arqueologia desses usos previstos pela Igreja aos usuários
da página. Diz o texto: “Bem-vindos!
Partilhe conosco
os vossos
comentários e opiniões sobre as notícias de
News.va
. Os co-
mentários
devem ser
referentes aos assuntos tratados,
evitan-
d
ofensas e falta de respeito; caso contrário
serão removidos
.
Obrigado!” (grifos nossos). Essas marcas discursivas permitem
perceber um certo perfil de usuário e um certo nível de negocia-
ção e de configuração dos usos possíveis dos usuários-fiéis: par-
tilhar conteúdos, inserir comentários dentro de certos padrões,
sob pena de sanções, etc. Usuários e usos, portanto, encontram-
-se inscritos no próprio dispositivo.
Na página
News.va Português
, a apropriação sociorreli-
giosa do Facebook torna-se perceptível a partir de algumas mar-
cas que explicitam três níveis diferentes desse processo: 1) usos
sociotécnicos realizados pela Igreja da interface da plataforma
Facebook, dentro das limitações e configurações da plataforma;
2) usos previstos e prescritos pela Igreja na sua interação co-
municacional com seus fiéis; e 3) usos efetivamente realizados
(sejam eles por parte da página
News.va Português
em relação
ao Facebook, ou dos usuários em geral em relação à página ca-
tólica), correspondentes ou não aos protocolos indicados pela
plataforma ou pela página.
Assim, em um primeiro nível, é possível falar de uma
certa
tecnicização
do ato de comunicação e das práticas reli-
giosas, pela simples presença de tecnologias que condicionam
as modalidades de concretização das relações sociais (JAURÉ-