Midiatização e redes digitais: os usos e as apropriações entre a dádiva e os mercados
dos chamados “produtores” eclesiais ou midiáticos, que passam
também a desenvolver funções de consumidores (FERREIRA;
FOLQUENING, 2012). Não apenas as instituições eclesiais, nem
somente as corporações midiáticas, mas também a sociedade
em geral, nos mais diversos âmbitos da internet,
falam sobre
e
fazem algo com
o “religioso” – em um processo simultâneo que
poderíamos chamar de “procepção” (produção-recepção).
Em nosso caso específico, interessamo-nos por uma fa-
ceta desse religioso, a saber, o catolicismo
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em rede. Na internet,
os fluxos de sentido em rede moldam e fazem circular comuni-
cacionalmente imagens, textos, vídeos, etc. sobre o “católico”, ou
seja, construtos simbólicos socialmente relacionados ao catoli-
cismo. Contudo, não nos interessa analisar que “católico” é esse,
mas sim
como ele se forma e se constitui
– isto é, os processos
comunicacionais envolvidos nessa ação social. Assim, podemos
analisar as redes sociais digitais não na sua rigidez estrutural (nós
+ conexões), mas a partir das
ações
de conexão que as constituem,
em que um
trabalho
em rede (
network
) se desdobra a partir de
plataformas tecnológicas, agentes sociais e construtos simbólicos.
Neste artigo, primeiramente, refletiremos sobre a no-
ção de usos e apropriações religiosos de redes sociodigitais, ou
seja, as relações entre tecnologias digitais de comunicação e as
práticas simbólicas de grupos religiosos. Em seguida, analisare-
mos, em uma rede social digital específica, o Facebook, a presen-
ça da Igreja-instituição e de usuários individuais e coletivos, em
três “páginas” explicitamente relacionadas com o catolicismo.
Nelas, descreveremos traços e marcas deixados por tais agentes,
que apontam não apenas para as suas crenças religiosas (mani-
festadas em seu discurso social), mas também para as suas prá-
ticas situadas e contextualizadas a partir e sobre o catolicismo,
ou seja, a apropriação sociorreligiosa das redes sociais digitais.
Então, examinaremos a experimentação religiosa em rede e as
novas práticas de sentido por parte de indivíduos e grupos so-
ciais, que dizem o “católico” midiaticamente para a sociedade
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O interesse pelo “católico” se deve à relevância sócio-histórico-cultural da Igreja
Católica, especialmente no Brasil. Segundo o IBGE, embora com uma queda mar-
cante desde o século XIX (em 1872, 99,7% da população brasileira era católica),
os católicos ainda são a maioria religiosa do país, com 64,6% do total da popula-
ção em 2010. Dados disponíveis em: <http://migre.me/ddYsQ>.