Table of Contents Table of Contents
Previous Page  147 / 282 Next Page
Information
Show Menu
Previous Page 147 / 282 Next Page
Page Background

Midiatização e redes digitais: os usos e as apropriações entre a dádiva e os mercados

tra-se em constante pulsação a partir das interações comunica-

cionais sobre “o que está acontecendo”

2

. Formam-se aí novos

dispositivos interacionais da sociedade com a própria sociedade

(BRAGA, 2012), mediante tecnologias digitais, nos quais senti-

dos são construídos e postos em circulação pelos próprios usuá-

rios, e não mais apenas pelas corporações midiáticas.

“As interações midiatizadas constituem, com efeito,

o pivô desses dispositivos, não somente através das múltiplas

transações dos utilizadores com os conteúdos, mas também da

constituição de redes sociais entre os usuários”, moldando um

“tecido extensivo de relações multidirecionais” entre as pessoas

(MILLERAND; PROULX; RUEFF, 2010, p. 2, trad. nossa). Relações

humanas e relações de sentidos sociais se articulam, se comple-

mentam e se complexificam nessa nova ambiência.

Nas interações sociais tecnologicamente mediadas,

manifestam-se lógicas midiatizadas, lógicas estas que envolvem

também as práticas dos indivíduos e as estratégias de institui-

ções sociais como as Igrejas. Instituições e agentes individuais

do campo religioso, assim, vão se reposicionando nesse novo

cenário e vão sendo impelidos pela nova complexidade social a

modificar suas estruturas comunicacionais e sistemas internos

e externos de significação do sagrado em sociedade. Nessa inter-

face específica do processo de midiatização digital – a saber, com

o fenômeno religioso –, vemos cada vez mais a apropriação das

redes digitais como ambientes de circulação de crenças, símbo-

los, discursos e práticas religiosos, remodelados para novas di-

nâmicas comunicacionais.

O religioso passa a circular nos meandros da internet

por meio de uma ação não apenas do âmbito da “produção” ecle-

sial-institucional ou midiática, mas também mediante uma ação

comunicacional de inúmeros agentes (usuários, tecnologias,

sentidos) da rede. Ocorre a inscrição dos chamados “receptores”

nos processos produtivos, deslocando inclusive o funcionamento

2

Chama a atenção que em uma das principais redes sociodigitais, o Twitter, essa

expressão faz-se presente

ipsis litteris

. Ao acessar a sua conta pessoal, o usuá-

rio se depara com a seguinte pergunta: “O que está acontecendo?”. E o Twitter

também afirma na sua página principal: “Conecte-se com seus amigos e outras

pessoas que você quer seguir.

Saiba das últimas novidades, em tempo real, e de

todos os ângulos

” (grifo nosso).