

Midiatização e redes digitais: os usos e as apropriações entre a dádiva e os mercados
fiéis é poder. O poder simbólico é um poder de construção da
realidade que tende a estabelecer uma ordem gnosiológica: o
sentido imediato do mundo (e, em particular, do mundo social)
(BOURDIEU, 1998, p. 9). Esta cumplicidade amplia e mantém o
poder simbólico, é uma simbiose simbólica, uma forma de ali-
mentação de poder, como afirma Bourdieu:
No entanto, num estado do campo em que se vê o
poder por toda parte, como em outros tempos não
se queria reconhecê-lo nas situações em que ele
entrava pelos olhos adentro não é inútil lembrar
que – sem nunca fazer dele, numa outra maneira
de o dissolver, uma espécie de “círculo cujo centro
está em toda parte e em parte alguma” – é necessá-
rio saber descobri-lo onde ele se deixa ver menos,
onde ele é mais completamente ignorado, portan-
to, reconhecido: o poder simbólico é, com efeito,
esse poder invisível o qual só pode ser exercido
com a cumplicidade daqueles que não querem sa-
ber que lhe estão sujeitos ou mesmo que o exer-
cem (BOURDIEU, 1998, p. 7-8).
Não devemos esquecer também que muita coisa que
está ocorrendo na atualidade sempre foi realizada. A oferta aos
deuses como forma de agradecimento pelas boas colheitas não é
novidade, sempre ocorreu em todas as civilizações; o mesmo se
aplica aos povos pastores, que sacrificavam a melhor ovelha do
rebanho. Tudo isso resultou numa palavra chamada sacrifício,
levada tão a sério ao ponto de o cristianismo oferecer um perso-
nagem humano, Jesus, como cordeiro imolado. Com a evolução
dos tempos e das necessidades, os homens foram fazendo do
agradecimento uma forma de levar vantagens, de fazer pactos
e negociações com o divino, numa espécie de “toma lá, dá cá”.
Os interesses pontuais geraram uma economia religiosa entre o
homem e as autoridades celestiais, movimentando dívidas, pro-
messas, pactos e milagres. Mas o sacrifício na Igreja Mundial do
Poder de Deus não é mais aquele de carregar uma enorme cruz
nas costas, de caminhar de joelhos até ficarem esfolados. O cor-
po não faz parte da troca; o que faz parte da troca atualmente é
o dinheiro, que é mais penoso para se ganhar. As divindades não