Midiatização e redes digitais: os usos e as apropriações entre a dádiva e os mercados
uma generosidade interessada rompeu a seu favor
(CAILLOIS, 1979, p. 27-28).
Será que em nossa sociedade agimos por questões fér-
reas do dinheiro, de interesses mesquinhos, ou as motivações
se multiplicam de uma forma inconsciente? Abrimos um espaço,
aqui, para outros tipos de patrocinadores, citando como exem-
plo o Partido dos Trabalhadores. Antes de ele ganhar as eleições
presidenciais no ano de 2002, era um ato voluntário o simpati-
zante, ou mesmo o partidário ideológico, “contribuir com a sua
carteirinha”. Quanto à atitude desses apoiadores, também se po-
dem estudar vários motivos que os impulsionam a tal feito. A
ação motivadora é diferente numa igreja, onde a autoridade es-
piritual fomenta diversas propostas para arrecadar. Esta carên-
cia de sentidos pode explicar o porquê da adesão às ideologias,
sejam elas religiosas ou políticas. A causa se deve ao que Erich
Fromm (1983) chama de “autômato”. A pessoa que desiste de
seu ego individual e se converte em autômato, idêntica a milhões
de outros autômatos em torno dela, não mais precisa se sentir
sozinha nem angustiada. O preço que ela paga, porém, é alto: é a
perda de sua individualidade (FROMM, 1983, p. 150-151).
Questão comunicacional
Quem sabe esta carência comunicacional direta expli-
que a atual voluntariedade que está em moda? Seria ela uma
nova oferta simbólica de alívio da situação social de individua-
lidade em que nos metemos? Novamente recorremos a Fromm,
que propõe a seguinte interpretação de tais necessidades:
Se considerarmos apenas as necessidades econô-
micas, no que toca às pessoas “normais”, se não
virmos o sofrimento inconsciente da pessoa co-
mum automatizada, então não conseguiremos ver
o perigo que ameaça nossa cultura em sua base
humana: a presteza para aceitar qualquer ideolo-
gia e qualquer chefe, desde que prometa agitação
e ofereça uma estrutura política e símbolos que
supostamente deem significado e ordem à vida