Midiatização e redes digitais: os usos e as apropriações entre a dádiva e os mercados
mem concebeu que seus deveres para com as forças
religiosas pudessem se reduzir à simples abstenção
de qualquer comércio; sempre considerou, ao invés,
que mantinha com elas relações positivas e bilate-
rais que um conjunto de práticas rituais tem por fun-
ção regular e organizar (DURKHEIM, 1989, p. 393).
Além do trabalho doado e do tempo despendido gratui-
tamente, ainda temos uma grande parcela de adeptos que depo-
sita verbas na conta da igreja, ou mesmo se torna um dizimista e
ofertante para ajudar uma causa em que acredita.
Qual seria o gatilho que incita uma pessoa à adesão
simbólica? O simbólico ao qual nos referimos aqui é ambivalen-
te. Ele serve tanto para preencher a necessidade de um simbo-
lismo imaginário quanto para sustentar um poder simbólico. Na
adesão simbólica ao imaginário, o fiel se relaciona com ummun-
do de narrativas conhecidas e outras apreendidas de acordo
com a sua cultura e vivência
.
Este simbolismo anda de mãos da-
das com suas superstições, seus medos e necessidades terrenas,
enriquecendo e alimentando o seu imaginário. Desta forma, o
fiel acredita, teme e luta contra o mal personificado no demônio;
ao mesmo tempo, combate e vence as batalhas, jamais sozinho,
pois Deus está ao seu lado na hora da vitória. Esta vitória vira
um débito que deverá ser honrado, e, assim, o imaginário volta
a realimentar o simbolismo; isto é o que Durand (1997) chama
de
continuum
:
Parecem-nos mais sérias as tentativas para re-
partir os símbolos segundo os grandes centros de
interesse de um pensamento, certamente percep-
tivo, mas ainda completamente impregnado de
atitudes assimiladoras nas quais os acontecimen-
tos perceptivos não passam de pretextos para os
devaneios imaginários. Tais são, de fato, as clas-
sificações mais profundas ou da imaginação lite-
rária. Tanto escolhem como norma classificativa
uma ordem de motivação cosmológica e astral, na
qual são as grandes sequências das estações, dos
meteoros e dos astros que servem de indutores
à fabulação, tanto são os elementos de uma físi-
ca primitiva e sumária que, pelas suas qualidades