Midiatização e redes digitais: os usos e as apropriações entre a dádiva e os mercados
do indivíduo. O desespero do autômato humano é
solo fértil para fins políticos do fascismo (FROMM,
1983, p. 203).
Questionamos também o valor que este fiel dá em di-
nheiro em prol daquilo em que acredita. Será que está atrelado
ao preço ou simplesmente para ele não interessa a quantia, e sim
o ato simbólico que o preenche? Neste momento, convém falar-
mos de trocar, dar e receber valor. Para nós o que interessa é o
valor simbólico e o que tal valor significa na vida do doador. Os
estudos antropológicos estão repletos de exemplos de inúmeros
povos que trocam valores entre si e com as divindades, motiva-
dos por crenças e apelos altamente simbólicos. A moeda de hoje
como valor poderia equiparar-se ao inhame dos nativos da Nova
Guiné observados por Malinowski:
Cai por terra, assim, a primeira hipótese, ou seja, a
hipótese de que “não há lugar para a riqueza ou va-
lor nas sociedades nativas”. Que podemos dizer ago-
ra sobre a outra hipótese, ou seja, a de que “não há
necessidade de trocas, visto que todos são capazes,
comdiligência e perícia, de produzir tudo aquilo que,
por sua qualidade ou quantidade, possa representar
valor”? Essa hipótese é refutada pela compreensão
de um dos fatos fundamentais dos costumes e da
psicologia nativa: o amor ao “dar e receber” em si
próprios; o gozo da posse da riqueza através de sua
doação (MALINOWSKI, 1978, p. 136).
Também é difícil estabelecer um valor. Sabemos que
os fiéis não questionam o preço que os líderes deliberam para
si mesmos, a forma como projetam seu discurso divino sobre
os demais. Todos pensam que é natural o pastor cobrar por um
serviço ao qual se dedica, independentemente dos méritos. Essa
não deixa de ser uma transação mercantil: o pastor oferece al-
guma coisa e tira proveito disso. Simplificando, o fiel frequenta
a igreja, cuida dela, consome seu conteúdo ideológico religioso
e gera um mercado; portanto, trata-se de uma relação também
monetizada. Há um interesse em jogo que faz a ponte entre o
ofertante e o receptor, ou produção e recepção. Isso se dá graças