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Redes digitais: um mundo para os amadores. Novas relações entre mediadores, mediações e midiatizações

Allard e Vandenberghe se propõem a atualizar a pers-

pectiva da Escola de Frankfurt, sugerindo uma inversão do

conceito de “Indústria Cultural”, desmontando a tese central e

colocando as práticas nas comunidades virtuais como algo que

poderíamos chamar de “Indústria Culturalizada”. Se na Indústria

Cultural a lógica linear-fabril preponderava, na perspectiva

“pós-fordista” trazida pelos autores, à qual deram o nome de

“Indústria Culturalizada” e que nós chamamos anteriormente

de “trabalho imaterial”, as fronteiras que dividem produtores e

consumidores de conteúdos são muito menos óbvias. É por isso

que, ao criarmos nossos perfis digitais em comunidades on-line,

estamos a um só tempo buscando e ofertando símbolos – formas

de estarmos e de nos comportarmos nas redes – que se subordi-

nam às especificidades dos aparatos tecnológicos nos quais esta-

mos imersos. O fato concreto é que a tendência do senso comum

é interessar-se mais pelos conteúdos, desprezando a natureza

complexa da forma como esses produtos digitais existem, que é

justamente o que conforma aquilo que poderia ser considerado

um panóptico digital de alcance global.

21

Há, no entanto, uma na-

tureza ambígua em todo esse processo onde, de um lado, estão

os padrões (e limitações) técnicos dos dispositivos digitais e, de

outro, os padrões estéticos e conteudísticos produzidos (que são

milhares) pelos internautas. Parte dos critérios de construção

do “eu digital” surgem das possibilidades técnicas de atualiza-

ção das identidades no espaço digital, que permitem aos sujeitos

representarem-se como quiserem, à medida que dominam tal

ou tal aparato técnico, permitindo-lhes fazer a construção sim-

bólica que lhes convier. É verdade, porém, que quanto maior for

a apropriação do sujeito sobre a técnica e os aparelhos tecnoló-

gicos, maior será sua capacidade de superar as possibilidades

dos aparelhos, configurando assim a forma mais autônoma de

construção de identidades digitais.

Sem perder de vista o debate sociológico, é interes-

sante levar em conta a ideia da “objetivação da expressão sub-

jetiva” – “l’objectivation de l’expression subjective” (ALLARD;

21 Desenvolvi essa ideia ao longo da pesquisa de mestrado, cuja dissertação pode

ser acessada no seguinte link: <https://www.academia.edu/12593460/TÉCNI

CA_E_AUDIOVISUALIDADES_Arquitetura_de_Informação_e_a_emergência_do_

homem_na_tecnocultura>.