Redes digitais: um mundo para os amadores. Novas relações entre mediadores, mediações e midiatizações
Por óbvio, essa consciência se manifesta tanto nas so-
ciabilidades digitais quanto nas formas, por assim dizer, pós-mo-
dernas de convivialidade. É a ambiência a que as pessoas estão
submetidas que agencia as construções subjetivas que as pessoas
fazem de si. As sociedades do início do século XXI estão imersas
no contexto tecnocultural da microinformática em que mesmo os
analfabetos funcionais ou digitais
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fazem parte da imensa rede
digital que conecta pessoas e dados e que transforma dados em
identidades individuais e coletivas.
A articulação entre imaginários, mídias e construções
identitárias na
web
permite fazermos certas inferências, dentre
elas a ressonância que as tecnologias digitais trouxeram para as
construções identitárias individuais e coletivas, responsáveis
pela inauguração de um universo novo. Desde outro ponto de
vista, tanto epistemológico quanto geográfico, McLuhan, em seu
livro
La Alde Global
(1993), adverte que, à medida que emer-
gem novos meios de comunicação, mudam as relações entre eles,
rearranjando os equilíbrios entre os meios e as pessoas. A partir
deste ponto de vista, podemos afirmar que surgem novos corpos,
novas comunidades e novas economias. É justamente porque se
instauram esses novos modos de agir – possibilitados pelas tec-
nologias contemporâneas – que se cria um campo de tensão com
os conceitos canônicos daquilo que era compreendido como o
“eu”.
Quando os novos corpos aparecem nas redes sociais da
Internet, o âmbito puramente discursivo deixa de, simplesmente,
fazer parte da identidade pessoal dos sujeitos e é elevado ao sta-
tus de identidade pública. Eis a dimensão mais profunda do “eu
digital”. Embora os autores Allard e Vandenberghe tenham como
objeto de pesquisa sites pessoais (possivelmente por serem o
material mais fértil para tal análise por volta de 2003, época em
que realizaram os estudos), nossas reflexões buscam aproximar
tais teses a aspectos formais dos perfis do Facebook e Twitter,
que são nossos objetos empíricos.
16 A ideia de que os analfabetos funcionais ou analfabetos digitais e mesmo as
pessoas desinteressadas pela Internet integram a rede mundial de computado-
res diz respeito à tendência de digitalização de dados pessoais – documentos
de identidade, contas de energia elétrica ou telefone, por exemplo – que acaba
construindo uma espécie de identidade digital dos sujeitos, embora, claro, estas
construções de si não sejam o objeto de interesse e análise deste estudo.