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Redes digitais: um mundo para os amadores.

Novas relações entre mediadores,

mediações e midiatizações

Nos corpos das redes sociais tudo é discursivo, não há

outra forma de existência “social”. Eles são compostos e com-

põem a estética específica deste espaço público digital compar-

tilhado pelos usuários, cujos padrões são dados, por um lado,

pelas determinações técnicas da rede (os campos de preenchi-

mento obrigatório); e, por outro, pelos usos e apropriações de

modo constante, no fluxo da prática cotidiana. Esses parado-

xos e ambivalências compõem os construtos do “eu digital” nas

plataformas

web

. Embora surjam certos padrões de comporta-

mento e compartilhamento de identidades, que variam de acor-

do com as redes em que os usuários estão conectados, Allard

e Vandenberghe chamam atenção para uma característica mui-

to particular desta forma de construção de si, que é o trabalho

de autorrepresentação, correspondente àquilo que eles intitu-

lam como “individualisme expressif contemporain”

17

(ALLARD;

VANDENBERGHE, 2003/1, p. 196).

Umponto marcante desta tendência é que se criam inú-

meras identidades e posições simbólicas dos sujeitos, que deno-

tam, em alguma medida, o aspecto superficial destas constru-

ções pessoais. “[...] un sujet decentre et fragmente, sans affects

et sans profondeur, un sujet superficiel et de surface, style et

stylise, toujours en representation, variable selon les occasions,

sorte de pastiche et de collage”

18

(ALLARD; VANDENBERGHE,

2003/1, p. 196). O existencialismo digital é, certamente, de uma

ordem muito diferente de todo o debate estabelecido pela filo-

sofia ocidental, de Kierkegaard a Camus. Os construtos singu-

lares produzidos na Internet guardam certa polivalência (não

que isso seja exclusividade do ambiente digital), conceituada

como identidade “néomoderniste” por Allard e Vandenberghe.

Isso implica dizer que a autoconstrução identitária digital não é

redutível à autoinvenção (ainda que tal aspecto seja marcante),

sendo formada, também, por aspectos hiperconstrutivistas, o

que é característico de um espaço social hipermidiático e hiper-

midiatizado como a Internet.

17 Tradução nossa: “individualismo expressivo contemporâneo”.

18 Tradução nossa: “[...] um sujeito descentrado e fragmentado, sem afetos e sem

profundidade, um sujeito superficial e de superfície, com estilo e estilizado,

sempre em representação, variável de acordo com a situação, uma espécie de

pastiche e colagem”.