Redes digitais: um mundo para os amadores.
Novas relações entre mediadores,
mediações e midiatizações
também, no ambiente digital. Levando em conta essa perspec-
tiva, um aspecto positivo da ideologia tecnicista é que ela foi (e
é) capaz de legitimar e mobilizar diferentes atores sociais – seja
como produtores, seja como usuários, ou como ambos – nessa
forma de organização social em rede, amplificada e reconfigu-
rada pela Internet. Isso significa que o imaginário tecnológico
surge como mais uma forma de construir e de constituir iden-
tidades singulares ou coletivas por meio da mobilização das
partes interessadas. Esse aglutinamento de interesses, por sua
vez, reúne em um mesmo espaço/tempo profissionais e ama-
dores, cujos limiares estão sempre em tensão e apresentam um
interessante campo de pesquisa para pensarmos a técnica, a
sociologia e a comunicação.
3 Eu digital
Nas sociedades ocidentais, a julgar pela caracterís-
tica antropocêntrica de nossas civilizações, sobretudo após o
Iluminismo, a ideia de indivíduo sempre foi muito latente. Nesse
sentido, desde alguns séculos, a construção dos sujeitos e de
seus imaginários sobre si próprios se tornou um elemento fun-
damental na constituição das sociedades. Ainda que o conceito
de indivíduo, no rigor do termo, remeta à ideia de singularidade,
é preciso levar em conta que nele também está explícita a no-
ção de que há aspectos em comum daqueles que dizem “eu” com
seus semelhantes. É justamente a partir desse “jogo” de simili-
tude e diferença que a construção de si ocorre. Compartilhamos
com todos o pronome pessoal “eu”, que é único e universal. Dizer
“eu” ou ter a consciência do “eu” é um exercício fundamental
às sociabilidades, porque é um gesto de reconhecimento não
somente de si próprio, mas também do outro. O filósofo Ernst
Tugendhat tem uma explicação muito clara sobre as implicações
conviviais da consciência de si.
Tanto essa capacidade [de dizer eu] quanto essas as-
serções significam um “eu consigo”, “eu tomo posição”, “eu jul-
go”. Portanto, poderíamos dizer que ter consciência de si próprio
significa ter consciência de si como ser pensante em um espaço
de manobra de tomada de posição (TUGENDHAT, 2013, p. 48).