Redes digitais: um mundo para os amadores.
Novas relações entre mediadores,
mediações e midiatizações
VANDENBERGHE, 2003/1, p. 217). Em síntese, isso significa di-
zer que as construções identitárias digitais, à medida que adqui-
rem certo reconhecimento público, passam a validar os sujeitos
aos quais se referem não apenas como integrantes dentro das
massas de usuários, mas como pessoas absolutamente singula-
res, produzindo uma hierarquia “social” dentro dos grupos em
que estão inseridos. Em última análise, na perspectiva apresen-
tada por Allard e Vandenberghe, as identidades construídas a
partir de tais construtos audiovisuais pretendem ser compara-
das a objetos de altíssimo valor, como “obras de arte”.
Vale nesse ponto recuperar um autor que serviu de
inspiração, inclusive, à Escola de Frankfurt e que morreu antes
mesmo da sociedade conhecer qualquer aparelho próximo a um
computador. Trata-se de Walter Benjamin (1989), que, ainda na
década de 1930, refletia sobre a reprodutibilidade técnica das
obras de arte e a emergência de sua, à época, nova natureza. O
intervalo temporal que separa Benjamin de nós permite que fa-
çamos certas aproximações entre suas vanguardistas intuições
e as práticas contemporâneas na rede mundial de computado-
res, ainda que haja uma série de tensionamentos necessários e
ponderações que devem ser levadas em conta. Todavia, tal apro-
ximação permite pensarmos como a reprodutibilidade técnica
da arte – visual e fonográfica, por exemplo, que tornou a
Pop
Art
mundialmente conhecida – sobrevive nos dias atuais de um
modo absolutamente novo, mas que mantém seu núcleo central
de funcionamento: a reprodução serializada. A contradição mais
óbvia no processo de construção de identidades audiovisuais é
que, ao mesmo tempo que temos a possibilidade de subverter
certas lógicas de produção de conteúdo, tendemos a nos com-
portar de maneira cada vez mais padronizada e serializada,
sobretudo porque o valor central das sociabilidades em redes
como o Facebook e Twitter é usá-los da maneira “correta”. Os al-
goritmos privilegiam os mais disciplinados. É nesse sentido que
a produção do “eu digital” opera mais pela lógica da produção
de audiovisualidades comercializáveis que das liberdades indi-
viduais, o que em uma economia dos “likes”, isto é, do impera-
tivo de angariar curtidas e compartilhamentos para aumentar
a penetração na rede, torna-se, então, uma necessidade. Talvez
esteja aí o núcleo do desejo dos usuários de sempre buscarem