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SOCIEDADE DE RISCO E NANOAGROTÓXICO: REFLEXÕES SOBRE OS RISCOS INVISÍVEIS POSTOS À MESA
IMPACTOS SOCIAIS E JURÍDICOS DAS NANOTECNOLOGIAS
2. AGROTÓXICOS E A SUBLIMAÇÃO DO RISCO
EM NOME DA NECESSIDADE DE AUMENTAR A
PRODUÇÃO DE ALIMENTOS
A indústria agroquímica é uma fonte causado-
ra de riscos e legitimadora de perigos e danos à saúde
humana e ao meio ambiente, sem que se percebam
grandes esforços para controlar ou minimizar seus ris-
cos. O que se observa ao examinar o uso desenfrea-
do de agroquímicos é que “a sociedade ainda toma
decisões e realiza ações segundo o padrão da velha
sociedade industrial” (BECK, 2012, p. 17), em nome da
necessidade de aumentar a produção de alimentos.
Na pós-modernidade, a sociedade continua cega e
surda “a seus próprios efeitos e ameaças” legitimando
as ameaças produzidas (BECK, 2012, p. 17-18). Ao não
refletirem sobre os riscos e perigos do desenvolvimento
e não modificarem o sistema produtivo, as sociedades
modernas “dão continuidade a uma política muito
parecida” (BECK, 2017, p. 19).
O uso de agrotóxicos não é uma técnica mo-
derna, seu uso intencional como pesticidas para a pro-
teção da produção de alimentos remonta ao ano de
2.500 a. C., quando o enxofre era usado para comba-
ter insetos. Os sumérios acreditavam que o mau chei-
ro repelia as pragas. No Egito há descrição de mais
de 800 receitas, muitas delas contendo substâncias
conhecidas, usadas como venenos e pesticidas (TAY-
LOR; HOLLEY; KIRK, 2007, p. 2). Assim, a necessidade
de proteção contra pragas é um elemento que tem
ascendência na antiguidade, quando substâncias or-
gânicas e químicas eram aplicadas como modo de
controle. Desde então, inúmeros pesticidas agroquími-
cos foram produzidos (NICOLOPOULOU-STAMATI et al.,
2016).
A disseminação e ampliação do uso de agro-
tóxicos deu-se na sociedade industrial. No início do
século XX a indústria química aproveitou-se das duas