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Midiatização e redes digitais: os usos e as apropriações entre a dádiva e os mercados

tirer profit des contributions déposées sur les

sites (PROULX; CHOON, 2011, p. 105).

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A contribuição ou colaboração é cada vez mais frequen-

te, porém é importante pensar que, ainda que a palavra de or-

dem da internet seja compartilhar, um vídeo que carrega peda-

ços de informações produz novas informações em pedaços, num

quebra-cabeças que nem sempre é fácil de montar do ponto de

vista reflexivo. Tome-se como exemplo o caso das manifestações

de junho de 2013, em que a web foi a grande potencializadora.

De um lado, seu poder mobilizador via mídias sociais (

Facebook

,

Twitter

) e, de outro, os produtos derivados, como o vídeo cons-

truído a partir de fotografias jornalísticas já veiculadas em dias

anteriores sobre as manifestações permeadas por fotos da di-

tadura e sonorizado com a música Cálice, disponibilizado no

YouTube

. A criação ganhou repercussão instantânea, mas os

espaços e tempos diferidos entre a) as imagens e contextos da

ditadura e b) as imagens e contextos das manifestações em São

Paulo e nas demais capitais brasileiras, em junho de 2013, aco-

plaram-se, gerando um terceiro produto. Isto é, imagens unidas,

carregadas de memória que se tornaram sem memória, ou re-

presentantes de uma memória póstuma, uma vez que a maioria

dos participantes das manifestações sequer havia nascido no

auge da ditadura. Todas as fotos escolhidas foram chanceladas

pelo discurso jornalístico que as torna documento.

Se, por um lado, há uma evidente reconfiguração so-

ciocultural fomentada pela midiatização, por outro percebe-se

o que Chris Andersen já alertava: que “até as formigas têm me-

gafones”, numa brincadeira alusiva ao fato de que todos na rede

estão dispostos a partilhar. A questão está no quê se partilha.

É certo que o espaço da web surgiu como um lócus de possibi-

lidades, uma “alquimia das multidões”, como afirmam Pisani e

Piotet (2010), para a quebra dos padrões preestabelecidos da

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As redes socionuméricas (sites de redes sociais) conferem ao usuário a possi-

bilidade de participar ativamente da produção de conteúdos para os próprios

meios. Isto estimula o aparecimento de novos relacionamentos interpessoais e

o enriquecimento de relacionamentos existentes. [...] A presença destes novos

modos de circulação de conteúdos midiáticos indica a possibilidade para os

proprietários de plataformas de negócios de tirar proveito das contribuições

depositadas nos sites.