Table of Contents Table of Contents
Previous Page  76 / 282 Next Page
Information
Show Menu
Previous Page 76 / 282 Next Page
Page Background

Midiatização e redes digitais: os usos e as apropriações entre a dádiva e os mercados

Avançando um pouco mais no esquema proposto por

Ferreira e Rosa, observa-se que há uma acentuação/alteração

dos sentidos em função da circulação intermidiática, ou seja,

entre dispositivos diversos. As fotografias jornalísticas ganham

uma condição de sobrevida distinta na web a partir do momento

em que são distribuídas de modo reverberador em dispositivos

que não são jornalísticos. As apropriações feitas pelos usuá-

rios criam possibilidades outras de circularidade em blogs, no

YouTube

, nesta emissão que chamamos aqui como de “segundo

nível”

3

, engendrando novas circulações.

Este cenário traz à tona as questões de base deste arti-

go, que podem ser formuladas do seguinte modo: de maneira ge-

ral, que lógicas da midiatização são perceptíveis na apropriação

de imagens jornalísticas? Os

mashups

4

se constituem em cria-

ções, cocriações ou apenas adaptações do já visto? Parte-se do

pressuposto de que a riqueza destas apropriações está na cria-

ção de novas interações diferidas no espaço e no tempo a partir

do discurso jornalístico já chancelado, reinvestindo tais imagens

de força simbólica, sendo que tal trabalho é desenvolvido pelos

atores sociais midiatizados. Contudo, antes de mais nada, é pre-

ciso entender do que estamos falando quando nos referimos às

apropriações.

2 Da circulação à apropriação

Produção e reconhecimento são os dois polos do sis-

tema produtivo do sentido; já a circulação, na visada de Verón

(2004), é a “defasagem entre os dois”, uma defasagem ou desvio

que muda conforme o tipo de produção significante objetivada.

3

Segundo nível ao considerar que as imagens jornalísticas utilizadas para com-

por um

mashup

, por exemplo, são publicadas inicialmente em espaços jornalís-

ticos com fins de ancoragem ou complementaridade da notícia e depois migram

para outros dispositivos. No entanto, observa-se que estes movimentos podem

ser diversos e complexos, em que a própria imagem jornalística não advenha da

produção jornalística, mas de atores ou instituições.

4

Os

mashups

são derivados da cultura do hibridismo, como sustenta Santaella

(2001), e se caracterizam por uma estética do fragmento. São combinações e

reorganizações a partir de ummesmo trabalho ou de vários pontos. Empregados

na música e na web a partir da ideia do remix. Derivam de técnicas como a cola-

gem, a sobreposição, o recorte.