

Midiatização e redes digitais: os usos e as apropriações entre a dádiva e os mercados
Avançando um pouco mais no esquema proposto por
Ferreira e Rosa, observa-se que há uma acentuação/alteração
dos sentidos em função da circulação intermidiática, ou seja,
entre dispositivos diversos. As fotografias jornalísticas ganham
uma condição de sobrevida distinta na web a partir do momento
em que são distribuídas de modo reverberador em dispositivos
que não são jornalísticos. As apropriações feitas pelos usuá-
rios criam possibilidades outras de circularidade em blogs, no
YouTube
, nesta emissão que chamamos aqui como de “segundo
nível”
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, engendrando novas circulações.
Este cenário traz à tona as questões de base deste arti-
go, que podem ser formuladas do seguinte modo: de maneira ge-
ral, que lógicas da midiatização são perceptíveis na apropriação
de imagens jornalísticas? Os
mashups
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se constituem em cria-
ções, cocriações ou apenas adaptações do já visto? Parte-se do
pressuposto de que a riqueza destas apropriações está na cria-
ção de novas interações diferidas no espaço e no tempo a partir
do discurso jornalístico já chancelado, reinvestindo tais imagens
de força simbólica, sendo que tal trabalho é desenvolvido pelos
atores sociais midiatizados. Contudo, antes de mais nada, é pre-
ciso entender do que estamos falando quando nos referimos às
apropriações.
2 Da circulação à apropriação
Produção e reconhecimento são os dois polos do sis-
tema produtivo do sentido; já a circulação, na visada de Verón
(2004), é a “defasagem entre os dois”, uma defasagem ou desvio
que muda conforme o tipo de produção significante objetivada.
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Segundo nível ao considerar que as imagens jornalísticas utilizadas para com-
por um
mashup
, por exemplo, são publicadas inicialmente em espaços jornalís-
ticos com fins de ancoragem ou complementaridade da notícia e depois migram
para outros dispositivos. No entanto, observa-se que estes movimentos podem
ser diversos e complexos, em que a própria imagem jornalística não advenha da
produção jornalística, mas de atores ou instituições.
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Os
mashups
são derivados da cultura do hibridismo, como sustenta Santaella
(2001), e se caracterizam por uma estética do fragmento. São combinações e
reorganizações a partir de ummesmo trabalho ou de vários pontos. Empregados
na música e na web a partir da ideia do remix. Derivam de técnicas como a cola-
gem, a sobreposição, o recorte.