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Midiatização e redes digitais: os usos e as apropriações entre a dádiva e os mercados

Esta formulação inicial, já revista pelo próprio Verón, que apon-

ta a complexificação do processo (2013), indica que a circulação

tem um papel no esquema comunicativo que precisa ser melhor

entendido. Assim, mais do que olhar o modo de produção e infe-

rir sobre como essa produção se deu, ou quais foram os efeitos

gerados em termos de reconhecimento, como se fazia a partir do

agenda-setting

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, a circulação resulta da análise de ambos os pro-

cessos, uma vez que ela é o que os liga. A circulação surge onde

há troca, isto é, reconhecimento de um valor, onde produção e

recepção se dizem “de acordo”. Isto implica dizer que, diferente-

mente do que afirmava Verón em seus estudos iniciais, a circula-

ção não é a defasagem, pois esta representa um hiato no tempo,

mas trata-se de um processo de igualdade onde produção e re-

conhecimento se equivalem, ainda que cada um opere conforme

suas regras. A circulação é, portanto, um processo em que o sen-

tido circula, muda, altera-se conforme a lógica dos meios que, ao

sintetizarem fatos na forma de discursos (imagéticos ou não),

reinterpretam, gerando outras formas de vínculos.

Desta forma, o foco da circulação adotado neste artigo

está no que ocorre no caminho entre a produção em si, e suas

regras, e o efeito gerado na recepção – como, por exemplo, a

reinscrição destes materiais significantes –, isto é, está no pro-

cesso que se desenvolve neste entrelugar e pode ter múltiplos

afetamentos. Há que se ter em mente que as condições da cir-

culação são variáveis conforme o tipo – ou tipos – de dispositi-

vo midiático e também segundo a “dimensão temporal que se

leva em consideração”. Portanto, compreender a circulação é

compreender como se dá o trabalho de construção do sentido

e como este se transforma ao longo do tempo. Para a hipótese

formulada neste trabalho, a noção de tempo é crucial, uma vez

que na web a sensação de tempo transcorrido parece suspen-

der-se. Se o tempo da fotografia já foi tão discutido como um

tempo difuso retido, nunca capaz de ser retomado, mas apreen-

dido, captado de alguma forma, o tempo do

mashup

, da recria-

5

Teoria da Comunicação criada no final dos anos 60 e início da década de 70 e

que defende que os meios de comunicação massivos têm a capacidade de pau-

tar a agenda dos cidadãos e de definir temas de pertinência. Em 2008, Maxwell

McCombs analisou a internet e considerou que, do mesmo modo, a rede também

realiza movimentos de agendamento.