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Midiatização e redes digitais: os usos e as apropriações entre a dádiva e os mercados

ção de um vídeo a partir de imagens jornalísticas já vistas supõe

uma supressão do tempo ou uma interação diferida de espaços

e tempos também diferidos, o que implica dizer que tempos não

compreendidos na mesma linha tempo-espacial real podem se

unir, diluir, hibridizar, fundir no tempo-espacial do ciberespaço.

A formulação pode parecer simplista, mas não é. Em se tratan-

do de jornalismo, quer dizer que os contextos são acoplados a

narrativas outras, hibridizando as interações e, especialmente,

as referências.

André Lemos (2009) destaca que recombinar, copiar,

apropriar-se, mesclar elementos já não é nenhuma novidade no

campo da cultura, pois ela por só si já é híbrida. Além disso, para

o autor, tais recombinações são provas da própria evolução hu-

mana. No entanto, quando nos referimos à imagem jornalística,

esta recombinação ou apropriação é motivo de tensão. Proulx

e Dominique Cardon veem nesse processo, exatamente, a dis-

cussão dos usos e das apropriações que precisa ser recupera-

da. A noção de uso, segundo Cardon (2005), surgiu a partir dos

estudos de Usos e Gratificações, onde o foco das investigações

residia no que o público fazia com os meios, depois de muitos

anos de pesquisas centradas no papel do emissor e no efeito da

comunicação de massa, isto é, no que os meios fazem com o pú-

blico. A mudança de percepção colocou em destaque, pela pri-

meira vez, o usuário da comunicação. A crítica à teoria de Usos

e Gratificações está no fato de que esta reduziu as investigações

aos aspectos psicológicos e às subjetividades dos receptores,

mas em contrapartida abriu caminho para o estudo dos usos, o

que não era comum.

Já a apropriação, ainda para Cardon (2005, p. 03),

começa a ser investigada nos anos 70, quando quebequenses

e franceses passaram a “desenvolver uma sociopolítica dos

usos, chamando a atenção para a dimensão conflituosa da apro-

priação das tecnologias no seio das relações de produção e de

reprodução da economia capitalista”. A noção de apropriação

envolve a interiorização de competências técnicas e cognitivas,

que passam a compor o indivíduo, sendo externadas em apa-

ratos tecnológicos. Isto implica dizer que o aparato é apenas a

forma de exercício de uma apropriação de uma lógica, que, em

nossa visada, é estritamente midiatizada

.