Midiatização e redes digitais: os usos e as apropriações entre a dádiva e os mercados
eles fazem com estes conteúdos na sua vida cotidiana ou na sua
vida pública. b) A segunda ideia são todas as imposições, as res-
trições postas pelas interfaces que limitam e orientam as es-
tratégias de interpretação dos internautas. Há um trabalho
inteiro a ser realizado para tentarmos desconstruir aquilo
que constitui as interfaces; ou seja, entrar nas entranhas das
interfaces, aprofundar, ir buscar os algoritmos, os códigos
informáticos, os
softwares
. Acho que é um trabalho que re-
quer a colaboração não só de sociólogos e especialistas em
comunicação, mas também de especialistas do mundo da in-
formática e, a rigor, a participação de matemáticos. Acho que
precisamos de equipes interdisciplinares para trabalhar nas
entranhas da
web
social.
c) Outra ideia é sobre a dupla articulação, a junção ne-
cessária entre modelos de análise que provêm da tradição dos
estudos de uso e modelos de análise que provêm da tradição
de estudos de recepção. Quanto aos estudos de uso, refletimos
muito em termos de apropriação do objeto técnico, estamos
mais do lado do caráter material do objeto técnico. Quanto
aos estudos de recepção, nós valorizamos a questão da inter-
pretação e da produção de significação, portanto a questão do
universo simbólico. Acho que precisamos trabalhar para arti-
cular o material e o simbólico. E acho que este é um caminho
interessante para desenvolvermos novos modos de estudar a
recepção no futuro.
d) Considero que devemos, também, continuar com
o trabalho de desconstrução das categorias a partir das quais
pensamos a figura do público, mas também desconstruir as ca-
tegorias a partir das quais pensamos a questão da recepção.
Caminhos interessantes podem ser buscados na construção de
abordagens híbridas que tomam de empréstimo proposições
de várias tradições de estudos. Falei em combinar estudos de
recepção e estudos de uso; acho que também podemos combi-
ná-los com estudos de política. Um exemplo: eu já realizei tra-
balhos nesse sentido para relacionar estudos de recepção com
análises políticas da difusão e com controvérsias sobre a regu-
lação e a governança de um novo ambiente midiático global.