Midiatização e redes digitais: os usos e as apropriações entre a dádiva e os mercados
O post inclui a
hashtag
#LoveWins. Assim, a página se
soma a todas as demais publicações na plataforma Facebook
que remetiam ao fato da aprovação do casamento gay por parte
da Suprema Corte. Trata-se de uma construção pública de sen-
tido social com uma carga semântica positiva (“o amor vence”),
que, ao mesmo tempo, graças às processualidades da platafor-
ma Facebook, desencadeia um fluxo circulatório específico: ao
utilizar o caractere “#” antes de uma palavra, a plataforma gera
um link que remete a todas as demais publicações que utilizam
essa mesma palavra-chave, constituindo um microfluxo espe-
cífico sobre esse tema no macrofluxo de sentidos que varre o
Facebook. Nessas interações, percebemos uma relação triádi-
ca (FERREIRA, 2006) entre sociedade, tecnologia e linguagem:
ou seja, uma relação que envolve uma plataforma tecnológi-
ca (Facebook), um sistema de relações sociais (entre a Igreja-
instituição, o coletivo gay e seus seguidores) e um sistema de
representações (o “católico”). Assim, no uso sociotécnico corri-
queiro de postar um texto e uma imagem no Facebook, dentro
das possibilidades oferecidas pela plataforma, podemos entre-
ver uma apropriação de três níveis:
1. social:
com a publicação da mensagem, a pági-
na põe-se em contato com seus diversos leitores;
destes, quase 1.100 “curtiram” o conteúdo, e mais
de 50 o compartilharam, gerando assim novas
conexões sociais e novos circuitos de circulação
comunicacional;
2. tecnológico:
a página promove usos determina-
dos das processualidades técnicas da plataforma
como elemento de uma prática religiosa específi-
ca, por exemplo, inserindo a
hashtag
#LoveWins.
Inscrevem-se, assim, as funcionalidades tecnológi-
cas oferecidas pelo Facebook dentro de novos mar-
cos de luta teológico-político-eclesial;
3. simbólico:
a página
reconstrói símbolos católicos
(como Maria e Jesus) a partir de uma releitura de
gênero sobre o sagrado católico. A bandeira do mo-