Midiatização e redes digitais: os usos e as apropriações entre a dádiva e os mercados
prefeituras, utilizou-se a televisão, que se tornaria prolongamen-
to da palavra do cidadão, que começava a intervir na expressão
municipal. Observamos que, com o tempo, as autoridades come-
çaram a controlar cada vez mais esse dispositivo. Podemos pen-
sar que a democracia participativa não está plenamente garan-
tida pelo uso dessas tecnologias (claro que estamos falando de
tecnologias audiovisuais, tecnologia da época da televisão, mas
pensamos que estudos estão sendo realizados sobre o estado
atual das coisas, no que diz respeito à democracia participati-
va municipal, suscitada pelo uso dessas mídias sociais). Na ver-
dade, pensamos que os espaços das mídias sociais –
blogs
,
sites
de redes sociais, Twitter – não são neutros. Voltando a falar da
questão dos algoritmos, afirmamos que, em última instância, a
formatação dos espaços de interação é restringida por escolhas
de
software
, de
design
, de interface, pelo modo de administrar
os
sites
. Concluindo essa questão das problemáticas políticas,
queremos mostrar a questão das ações de politização que se dão
a partir do uso das mídias sociais. Nós nos vemos ante espaços
de tomada da palavra por coletivos que podem gerar gestos polí-
ticos que avançam rumo a uma politização, ou seja, tornando po-
líticas as questões que podiam até então não sê-lo. Ou poderiam
até então não parecer políticas. Vamos ilustrar essa ideia com
um estudo de caso que foi realizado num fórum de pais de crian-
ças autistas. Isso aconteceu no início dos anos 2000, quando
pais de crianças autistas que moravam em Paris decidiram criar
um fórum, na internet, só para conversar sobre as condições
cotidianas das suas vidas com seus filhos autistas. E acharam
interessante, então, poder descrever a situação em que vivem
e, assim, buscar maneiras de solucionar problemas que podem
surgir na vida cotidiana dessas pessoas com seus filhos autistas.
E, aos poucos, as conversas entre esses pais, em resumo, dire-
cionaram-se para o diagnóstico psicanalítico dessas crianças.
Eles perceberam que estão todos cercados por psicanalistas,
que lhes indicam que haveria, segundo esses psicanalistas, um
problema na relação dos pais, muitas vezes da mãe com a crian-
ça, que poderia explicar o comportamento autista da criança. Os
pais, então, conversam neste fórum e percebem que há um sen-
timento de culpa que foi interiorizado a partir desse diagnóstico