Midiatização e redes digitais: os usos e as apropriações entre a dádiva e os mercados
no ano passado, ou há dois anos, não lembramos, decisões ju-
diciais diziam que o espaço do Facebook era público. Podemos
perceber as grandes consequências, de um ponto de vista jurí-
dico, nessas diferentes definições. Vemos que muitas questões
são levantadas e, à medida que as causas se apresentam diante
dos tribunais de justiça, vamos ser obrigados a melhor definir as
responsabilidades jurídicas nesses assuntos.
A quarta questão ética diz respeito às escolhas técni-
cas. O que é uma escolha ética? É o fato de escolher, desenvolver
uma rede, de acordo com uma dada arquitetura. Podemos, por
exemplo, introduzir a possibilidade de
feedback
em uma arqui-
tetura de rede ou não. Por escolha técnica designamos também
o
design
de dispositivos técnicos ou também a concepção de có-
digos informáticos. Observamos que, se escolhemos o
software
livre em vez de um
software
privado, já é uma escolha. E o que
queremos dizer, do ponto de vista ético, é que a escolha técni-
ca não é apenas técnica. Uma escolha técnica comporta uma di-
mensão ética. Há uma dimensão de valor que está enraizada na
decisão técnica. Retomando nosso exemplo de rede interativa:
o fato de introduzir a possibilidade de intervir numa conversa
que aparece num fórum coloca questões fortes (podemos in-
tervir? Vai haver, ou não, moderação?). Observamos que todas
essas dimensões comportam escolhas, em termos de valores.
Precisamos, então, desvelar esse inconsciente moral que estru-
tura escolhas de natureza aparentemente técnica.
Encerramos esse enfoque das problemáticas/questões
éticas propondo algumas reflexões sobre as questões políticas
de uma cultura da contribuição. Abordamos essa questão em
termos de democracia participativa e, de fato, podemos nos per-
guntar se há uma conexão entre a reciprocidade num modo de
comunicação interativo e a ideia de uma democracia participa-
tiva. Pensamos que talvez estejamos vivendo um momento em
que devemos desenvolver uma reflexão crítica, porque a ideia
de democracia participativa favorecida pelas ferramentas de
comunicação é uma problemática que surgiu, por exemplo, na
América do Norte, nos anos 1960. Em Quebec, houve um grande
movimento em torno do que denominamos televisões comuni-
tárias, a ideia de que a televisão poderia simplesmente ser posta
a serviço da expressão cidadã. Nos mercados, por exemplo, das