Table of Contents Table of Contents
Previous Page  119 / 282 Next Page
Information
Show Menu
Previous Page 119 / 282 Next Page
Page Background

Midiatização e redes digitais: os usos e as apropriações entre a dádiva e os mercados

no ano passado, ou há dois anos, não lembramos, decisões ju-

diciais diziam que o espaço do Facebook era público. Podemos

perceber as grandes consequências, de um ponto de vista jurí-

dico, nessas diferentes definições. Vemos que muitas questões

são levantadas e, à medida que as causas se apresentam diante

dos tribunais de justiça, vamos ser obrigados a melhor definir as

responsabilidades jurídicas nesses assuntos.

A quarta questão ética diz respeito às escolhas técni-

cas. O que é uma escolha ética? É o fato de escolher, desenvolver

uma rede, de acordo com uma dada arquitetura. Podemos, por

exemplo, introduzir a possibilidade de

feedback

em uma arqui-

tetura de rede ou não. Por escolha técnica designamos também

o

design

de dispositivos técnicos ou também a concepção de có-

digos informáticos. Observamos que, se escolhemos o

software

livre em vez de um

software

privado, já é uma escolha. E o que

queremos dizer, do ponto de vista ético, é que a escolha técni-

ca não é apenas técnica. Uma escolha técnica comporta uma di-

mensão ética. Há uma dimensão de valor que está enraizada na

decisão técnica. Retomando nosso exemplo de rede interativa:

o fato de introduzir a possibilidade de intervir numa conversa

que aparece num fórum coloca questões fortes (podemos in-

tervir? Vai haver, ou não, moderação?). Observamos que todas

essas dimensões comportam escolhas, em termos de valores.

Precisamos, então, desvelar esse inconsciente moral que estru-

tura escolhas de natureza aparentemente técnica.

Encerramos esse enfoque das problemáticas/questões

éticas propondo algumas reflexões sobre as questões políticas

de uma cultura da contribuição. Abordamos essa questão em

termos de democracia participativa e, de fato, podemos nos per-

guntar se há uma conexão entre a reciprocidade num modo de

comunicação interativo e a ideia de uma democracia participa-

tiva. Pensamos que talvez estejamos vivendo um momento em

que devemos desenvolver uma reflexão crítica, porque a ideia

de democracia participativa favorecida pelas ferramentas de

comunicação é uma problemática que surgiu, por exemplo, na

América do Norte, nos anos 1960. Em Quebec, houve um grande

movimento em torno do que denominamos televisões comuni-

tárias, a ideia de que a televisão poderia simplesmente ser posta

a serviço da expressão cidadã. Nos mercados, por exemplo, das