Midiatização e redes digitais: os usos e as apropriações entre a dádiva e os mercados
contributivo? Nós o descrevemos até como sendo um trabalho
gratuito, como sendo um trabalho situado numa lógica do dom.
Pelo menos para os usuários, mesmo que seja um trabalho que é
retomado e seja fonte de valor econômico para os grandes, para
os gigantes da internet. Mas achamos que, mais cedo ou mais
tarde, teremos que nos questionar sobre a retribuição desse tra-
balho, até agora gratuito entre aspas.
Tendo em vista a automatização, a robotização, o traba-
lho humano tem tendência a se tornar cada vez menos necessá-
rio. Haverá pequenas camadas de indivíduos que continuarão a
fornecer trabalho humano, mas muito do trabalho que até agora
foi realizado pelos trabalhadores humanos será realizado por
máquinas. Pensemos, por exemplo, nos terminais bancários.
Hoje é raro termos uma interação com uma pessoa no banco.
Fazemos transações automáticas, cada vez mais. No mercado
da alimentação, até agora, tínhamos, por exemplo, no balcão
um caixa, alguém trabalhando no caixa, mas observamos que,
cada vez mais, são implantados dispositivos automáticos para
o processamento daquilo que compramos. Observem, então,
que há uma grande tendência, que pode ser observada no nível
da robótica, da produção automobilística, de que estamos real-
mente numa fase de transformação da economia, que faz surgir
um novo tipo de trabalhador, o trabalhador do imaterial, mas
teremos de nos perguntar como remunerar, de forma justa, este
novo trabalhador.
Gostaríamos ainda de abordar uma ideia de crise mo-
ral, isto é, observações sobre as questões éticas de política de
uma cultura da contribuição. A crise moral é multidirecional; é
uma crise, ao mesmo tempo, da ecologia, da economia, da polí-
tica, mas gostaríamos de insistir sobre a crise dos valores – os
valores compartilhados.
Estamos em volta de uma fratura social em escala
mundial. Sabemos que a desigualdade progride em todos os
lugares, as desigualdades estão crescendo em escala global.
Mas sempre há um pequeno 1% que ocupa toda a riqueza. E
observamos que, na crise (pensamos do ponto de vista dos va-
lores), estamos frente a um desejo imoderado de acumulação
das riquezas. Os economistas americanos mostram o triunfo
da ganância, o fato de somente haver a riqueza e o dinheiro