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Operações de midiatização: das máscaras da convergência às críticas ao tecnodeterminismo

fornecedores de acesso ou os operadores de cabos que oferecem

chamadas telefônicas, etc.), ela não é só simplista, mas sobre-

tudo é questionável: o movimento para a convergência não é o

resultado automático e derivado de uma dinâmica que iria en-

contrar sua fonte em um poderoso desenvolvimento tecnológico

autônomo impondo sua lei; a longo prazo (anunciada há mais de

duas décadas, a convergência ainda está sendo feita), é marca-

da por sucessos e fracassos, e deve ser considerada como uma

construção social realizada por aqueles envolvidos, na maioria

das vezes competindo entre si, caracterizáveis como uma diver-

sidade de atores sociais, industriais por um lado, usuários-con-

sumidores, por outro. Por terem ignorado ou tentado quebrar

apressadamente essas fronteiras, líderes industriais e financei-

ros conhecidos têm sofrido reveses profundos: entre outros,

conforme explicam P. Bouquillion (2008), J.-M. Messier, no seio

da Vivendi Universal, e Steve Case, durante a fusão abortada

entre AOL e Time Warner. Isso demonstraria que não se pode

ignorar a complexidade do processo de formação dos usos das

TIC, como de outros objetos e dispositivos tecnológicos, feitos

de avanços e recuos, desvios, falhas, atrasos em relação às previ-

sões, sucesso inesperado e desenvolvimento lento.

É por isso que, sem repetir o argumento e os trabalhos

em que foi sustentada, a conclusão de uma pesquisa já antiga

nos parece sempre atual, citando longamente o que escreveram

em 1994 G. Tremblay e J.-G. Lacroix: “A convergência, apesar de

seu substrato tecnológico, não é um processo único nem o ponto

final exigido de uma evolução completamente determinada. A

convergência de técnicas de comunicação surgiu com a atenção

de todos, mas não constitui um fenômeno puramente técnico.

Ela comporta dimensões econômicas, sociais, legais e políticas,

tão importantes e decisivas quanto o componente tecnológico.

Mesmo possível tecnicamente, a convergência de sistemas de

comunicação não vai acontecer sem vontade política e econômi-

ca, sem enquadramento legal e regulamentação adequada e sem

uma aceitação dos usuários... A convergência não é um ‘dado’,

resultado de um processo irreversível. A única possibilidade de

digitalizar voz, dados e imagens não passa necessária e inevi-

tavelmente pela convergência de sistemas de comunicação. Isto

parece um pouco como uma construção social cujos contornos