Operações de midiatização: das máscaras da convergência às críticas ao tecnodeterminismo
na promoção de tecnologias. Em alguns, como em outros, os dis-
cursos se repetem e se reproduzem no lazer, não só ignorando as
críticas ou os questionamentos, mas sobretudo as condições só-
cio-históricas entre as quais circularam, circulam e... circularão.
Temos, assim, tomado e analisado
ex post
textos de
obras da Direction Générale des Télécommunications (agora,
France Télécom), bem como artigos ou trabalhos de “tecnólo-
gos”, como os do canadense M. Cartier, J. de Rosnay ou P. Levy: os
primeiros, muito completos, fazem algumas previsões realmen-
te verificadas, no entanto, simplesmente ignoraram as duas pri-
meiras gerações de telefonia móvel, esquecendo-as... a abertura
da Internet ao público; a segunda corrente, compreendida entre
2000 e 2005, envolve a generalização do digital e a supressão
das fronteiras entre as mídias, assim como a primazia do con-
teúdo sobre o hardware e as redes; a terceira, de 2006 a 2016,
prevê que os “
pronetariados
” (ou seja, a maioria dos membros
de redes colaborativas) superem a grande mídia na produção de
conteúdo, etc.
Os autores destas previsões estão geralmente muito
bem informados sobre os desenvolvimentos iniciados com as
possibilidades técnicas, mas eles são incapazes de conside-
rar as maiores inovações, na medida em que dependem for-
temente da coordenação de estratégias dos principais atores
da indústria, assim como das mudanças das práticas sociais de
usuários e consumidores (ver MIÈGE, 2007, capítulo 1). Eles
mantêm, igualmente, componentes-chave: a convergência foi,
a cada vez, impulsionada por atores sociais, facilmente iden-
tificáveis (encontrados em primeiro lugar, evitando generali-
zações, num corpo profissional ligado às sociedades da infor-
mática e da telecomunicação); e, no espaço-tempo das análises
atuais, – no último quarto de século o –, mostra-se que as ca-
tegorias sociais “referenciais” são essencialmente as mesmas,
provando-se que os indivíduos que estão na origem ou que
foram os principais vetores desses discursos sociais não dife-
riram. É, portanto, na reprodução social que está a questão, e
ela deve ser adicionada à tendência de operar num contexto
cada vez mais internacionalizado em que intervêm grandes or-
ganizações internacionais (OIT, OCDE, Directions spécialisées
de l’Union Européenne, etc.).